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quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

SEJA GENTIL COM OS ARTISTAS

    Não espere a sorte de ser anunciado no jornal nacional quando morrer, se você foi um pai de família, um homem comum como eu, de erros e acertos. Talvez nem seja sorte, na realidade não é  nada, uma simples notícia esquecível.  Mas não se revolte  quando um poeta morrer,  ser anunciado aos quatro cantos. Ou um músico, um homem das artes. Um poema, uma música, salva uma vida! Salva muitas vidas; faz o suicida dar um passo atrás, faz o homicida lembrar-se menino, ameniza as dores do cárcere, reduz o terror das guerras nas noites de vigília. Embala o sono da criança que nunca esquece a melodia suave. Seja paciente com os artistas, eles são o bálsamo do mundo desassistido, deletado pelos homens vis. Sobram os artistas para entender a alma dos homens maus e conceder-lhes a mesma oportunidade de serem crianças, de amolecer o coração e lhes lembrar que já foram flores antes de serem espinhos. Seja paciente com os artistas, que não são melhores que ninguém mas merecem mais do que eu um momento a mais de despedida pois eles sofrem muito mais com os famintos e sedentos do mundo. Ninguém como eles para sentir o frio que o mendigo sente andando a esmo pelas rodovias, com fome e sem destino. Seja paciente com os artistas pois a eles foi concedida a honra de morrer de amor.

Ter uma filha de 11 anos


  1. Tenho uma filha que irá fazer 12 anos em Fevereiro e apesar da maturidade demonstrada em várias oportunidades, com inusitados conselhos, intervenções importantes em algumas atitudes que eu queria tomar ( e Graças a Deus não tomei), se mostra , para meu contentamento, ainda imune às vivências precoces que o mundo criou em seu eterno estudo de rotular fases. Criança, pré adolescente, adolescente , jovem, adulto, terceira idade e agora , "melhor idade". Da cabeça de quem saiu isso ninguém sabe. Certo. Veio de uma comissão, que achou legal, passou no crivo da mídia e se afixou na mentalidade sempre absorssiva da opinião pública, que aceita como uma verdade absoluta e nem questiona. Não funciona muito assim comigo. Até porque minha filha tem 11 anos e faz questão, querendo eu ou não, de ser criança. E isso não quer dizer que seja uma boba, muito pelo contrário.  Simplesmente gosta de correr, ler, ouvir músicas de Selena Gomes, comer doces, pizza, estar com meninas da idade e pensamento dela. É uma criança que ainda não se preocupa com namorado, festas ou ficar até tarde na rua. Se está pulando ou queimando etapas? Não sei. Sei que ela sabe de suas responsabilidades e tem liberdade e abertura para conversar sobre todo e qualquer assunto comigo. Nos vemos todos os dias ( ela mora com a mãe) e quando estamos juntos, respeito à privacidade dela e vice e versa. Mas existe "abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim" e também "duras" quando é preciso pois o temperamento é forte. Sem manual. Sem receita. Muito amor, muita vontade de vê-la sempre feliz ( mera ilusão) mas sei que naturalmente a vida tem muitos perigos que somente aos filhos cabem resolver. O quanto eu puder fazer para fortalecê-la já me faz muito feliz, além de ver o amor estampado no rosto dela, o que não tem preço. Um beijo, com muito amor e um abraço que quebra qualquer resistência. Ser pai e ter uma filha. Ser filha e ter um pai.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

O REINO DE TEMBAKAU


Em uma pequena cidade entre as montanhas de um pequeno Vale, há muitos anos atrás, vivia um povo bom. Ordeiro, simples, nostálgico, amigo e pacífico. Porém, esse povo tinha um pequeno defeito.  Não sabia de sua própria força. Sempre achava que o vizinho tinha mais capacidade do que ele. Por causa desse defeito,  instalou-se uma praga. Todas as pessoas nasciam cegas. Não podiam ver. E enquanto mais os olhos eram deficientes, mais a boca se agigantava. Aproveitando-se dessa deficiência, os governantes, mesmo cegos, sugavam cada vez mais do já sofrido e inerte povo. Tantas foram os desmandos que  Deus lançou um desafio. Quando mais seu povo crescia, mas seus governantes se apequenavam. Tembakau era única.   Tinha personagens peculiares. E muitos diziam que a pena de não enxergar era injusta. Mas Deus sabe o que faz. Até que um dia, os governantes de Tembakau se tornaram anãos. Anãos de 70 centímetros. Mas o povo não podia ver isso, porque era cego. Eles se sentiam pequenos pois recebiam visitas de outros povos e mesmo sem poder ver, o sentimento era de diminuição e devoção ao que vinha de fora. O Tembakausense típico era generoso, solidário e de uma paz que remontava os idos de sua criação. Pessoas silenciosas que acolhiam aprazivelmente quem lá se aportava. Pelo tratamento especial com os visitantes, muitos deles foram cativados e resolveram lá viver. Uns, se integraram plenamente à cidade, o jeito das pessoas, costumes e até mesmo as qualidades. Outros nem tanto. Foram acolhidos e mesmo sem raízes no Município, com a índole malevolente e externa, passaram a instalar o ódio pelo povo da cidade, antes ordeiro. Os que assim agiam, aproveitavam-se de que não eram cegos e podiam enxergar astuciosamente, foram ensinando alguns moradores a como enxergar também. Passaram então a aliciar aquelas pessoas que não tinham o sentimento tão puro como a maioria e essas pessoas foram corrompidas, passaram a ver e assim, torraram-se cupinchas dos que chegaram e foram de boa vontade abraçados pelos tembakauenses de raiz. Esses forasteiros sem história no povoado criaram uma aura de falsa moral,  forjaram relacionamentos carcomidos pela aparência, pela devassidão, pela degradação moral, pela perversão de costumes, espalhando ódio e ironia diabólica entre as famílias de anões que antes viviam em paz. O povo continuava sem saber de sua real força e foram dominados pelo medo e confundidos pelo sentimento de confronto entre si mesmos. A cidade então passou a não crescer, ficando anã, como seu povo. Outro fenômeno se sucedeu. Os desordeiros que visavam apenas o poder e a discórdia, com o passar do tempo diminuíram de tamanho e passaram a se chamar epalburuk. Mas o povo já estava tão acostumado com sua presença que o tinham como heróis, enquanto isso, o que antes era uma cidade de honra e glória, passou a ser de desordem e retrocesso, desvirtuando-se em ironias, chacotas, deboches, maldades , tudo fomentado pelos epalburuk. Se em terra de cego quem tem um olho é rei, imagine quem tem os dois.