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terça-feira, 20 de novembro de 2018

DIA DE PRETO

Todo dia era dia de preto.
Todo dia era dia de preto.

Oxóssi, Oxóssi!
Oxóssi, Oxóssi!

Todo dia era dia de preto
Todo dia era dia de preto.

Oxóssi, Oxóssi!
Oxóssi, Oxóssi

Depois que alguns  homens aqui chegaram,
E dominaram as terras brasileiras,

Voltaram a Africa e capturaram  outros homens.
Homens pretos, laçados como animais.
Homens pretos, centenas, milhares, milhões.

E quando digo homem, digo homem, menino e mulher.

E quando digo homem, homem escravo, menino escravo e escrava mulher.

Para fazer aquilo que o homem branco queria.

Para fazer aquilo que o homem branco não fazia.

Dois milhões de pretos,
Escravos tristes
da África para Terra Brasilis.
Para cá vieram , dentro de grandes navios.

E lá pretos morriam, pretos nasciam.

Eu também morria no navio eu também nascia.

E eu dizia:
Oxóssi, Oxóssi!
Oxóssi, Oxóssi

O preto chorava:
Oxóssi, Oxóssi!
Oxóssi, Oxóssi

E naquele tempo,  todo dia era dia de preto.
Todo dia era dia de preto.

E agora deram a eles 
O dia vinte de Novembro.
Mas agora me deram de pechincha o dia vinte de Novembro.

Amantes da natureza, do trabalho e da liberdade
Eram homens de paz mesmo sendo  escravos comercializados.

Sempre souberam de sua consciência.

De amar a familia, o trabalho, a floresta e Oxossi.

De amar a familia, o trabalho, a floresta e Oxossi.

E em sua história ,
o  preto
É  exemplo puro e perfeito.

Próximo da harmonia
Da fraternidade e da alegria

Da alegria de viver!
Da alegria de viver!

E no entanto, hoje
O seu canto triste;

É o lamento de uma raça que nunca foi muito feliz
Pois antigamente e hoje

Todo dia era dia de preto
Todo dia era dia de preto

Só por causa do preto
A riqueza acontecia
Pois o seu trabalho era duro, suado e silencioso.
E ainda hoje muito preto continua escravo.

E também muito branco que o escravizava é escravo de branco e escravo do preto.
Muito preto escraviza preto.

Mas quem ensinou o que é escravidão?

Quem ensinou, o que é escravidão?

Eles multiplicaram e criaram a raça da Terra Brasilis.

De dois milhões , fizeram duzentos milhões.

De dois milhões , fizeram duzentos milhões.

 E agora deram a eles um dia no calendário, para ficarem felizes,  cantarem e sambarem.

E fazerem palestras, oficinas e seminários, lembrando do dia em tinham todos os dias do ano.

Pois todo dia era dia de preto.

Todo dia ainda é dia de preto.

O navio que vinha, para a África não voltava.

Trazia preto amarrado, preso e amordaçado,
era vendido  em praça pública, para todo mundo ver.

Oxóssi, Oxóssi!
Oxóssi, Oxóssi

Eles olhavam os dentes dos pretos amarrados.
Eles compravam o corpo do preto amarrado.

Mas eles não compravam a sua consciência.

E a consciência do preto era todo dia.

A consciência do preto , do branco e do amarelo é todo dia.

Eu falo do preto porque é sua história que está sendo contada.

Em um só dia!
Em um só dia!

A lei é de um dia!
Dia vinte de Novembro.

Eles estão por aí,
Nos barracos escuros, cadeias e favelas ou como empregados nos filmes e nas novelas.

Não adianta querer sair da realidade. O preto era ouro, o preto era escravo. O preto brasileiro, é essa a sua raiz.

Eu também sou preto, meu dia era todo dia.
Eu também sou preto, meu dia é todo dia.

Os navios negreiros são trens e ônibus lotados. Milhões de pretos em todas cidades.

O pardo é preto.
O moreno é preto.
O escurinho é preto.
Até o branco é preto.

Todo dia, era dia de preto
Todo dia, ainda é dia de preto.

Oxóssi, Oxossi!
Oxóssi, Oxóssi!

Todo dia ainda é dia de preto.

( Olinto Vieira, 20 de Novembro de 2018)

Inspirado na letra "TODO dia era dia de Índio,ver Jorge Benjor)

terça-feira, 13 de novembro de 2018

Estrada em mim

Nesse mundo tão escuro, já existem tantos muros,  poucas pontes para nos ligar.

 No meu peito eu encontro, uma fonte, um horizonte,   um amor que não vai se apagar. 

 A imensidão do tempo,  me mostra que aqui dentro, 
quero ser pleno de paz.

Campos, planícies,  desertos, 
pés firmes , olhos abertos, o que é meu sempre  me satisfaz.  

 Atravesso os sete mares, Entoando o meu canto,  na fé de todos Altares, encontro meu acalanto.

Aqui estou,  caminhante; sou plebeu e sou infante,  e também navegador .

A estrada me fez forte, o Sol é meu companheiro.
 Na noite  não temo a morte,  o céu é o meu Luzeiro.  

Por seguir um guia cego, já entrei em um desvio, pisando entre espinhos.

 Hoje sou meu comandante e Deus me deu o bastante, sei que não estou sozinho.

Fecho os olhos e assim, compreendo que a mim, 
só cabe o  meu compasso.

E mostrei pra quem quis ver , a diferença sutil entre o tiro e o abraço.

O Universo é  meu lar, com estrelas vou morar,  nasci da primeira flor.

Da terra eu sou o sal, e entre o bem e o mal, o meu norte é o Amor.

( Olinto Campos Vieira)

domingo, 11 de novembro de 2018

O que vc pensaria próximo do ponto final?

Nos minutos finais, encerrando a jornada,   sentindo a proximidade súbita da chegada no ponto final,  não se lembrou da última refeição,  de quanto tem no banco, da prestação do carro, do material escolar distribuído pelas autoridades nem do nome do último ou do próximo governante nacional, muito menos daquela eleição 'importantíssima', ou da senha da sua rede social,  das mensagens proibidas no celular. Não se lembrou do tempo perdido na discussão política acirrada nem da superdimensão  dedicada a isso. Queria desesperadamente  chamar o amigo ou o filho ou a mulher ou o pai ou o irmão ou a mãe para dizer palavras que deveria dizer e não disse; sentiu ansiosanente naquele momento que não  conseguiria fazê-lo. Na cabeça, turbilhão de pensamentos e naquele momento, o que importava muito, muito, era o tempo, tempo, tempo, temp, tem, te, t, ...

( Olinto Vieira11/11/2018)

sábado, 3 de novembro de 2018

Em "modo avião"

Cada vez mais carente de autenticidade, o mundo limitou-se a exigir perguntas objetivas para respostas fáceis.

 Ha pouco tempo as orelhas de livros eram o refúgio da intelectualidade de congressos e seminários.

 Hoje,  os novos profetas sucumbiram ao brilho das telas, que cada vez  mais alimentam a superficialidade das redes sociais em reclusão.

Eles estão por aí, em todos os âmbitos, repelindo ferozmente o glúten cerebral para cultivar a silhueta esguia, ensinando a manter um corpo são, a todo custo.

Mas não adianta um corpo atlético passar a vida carregando uma alma desnutrida e uma consciência míope.
 
Há vigilantes na espreita,   ocupados com a verdade material, visualizando apenas a ponta do iceberg. Estão com a cabeça pouco acima da superfície, o suficiente para respirar.

 Enquanto isso, a verdade real se espreme debaixo dos tapetes, sabendo que é muito maior do que o esconderijo que a colocaram.

 Se as lentes de contato obstruem a visão do que precisa ser visto, o olho que não se deixa aprisionar, a tudo vê;  de tão silencioso e preciso, mesmo quem sabe que ele não falha, pode se perder com sua quietude.

Há uma lógica que nao passa pelo racional dos que sofrem com a predominância aparente do obscuro.

A impaciência ansiosa dos que sofrem, não os deixa ver que há algo cristalino em axiomas.

 "Tudo passa", "Nada acontece por acaso", "É questão de tempo".

 É isso mesmo. O óbvio não é desinteligente como parece. Longe disso.

 Mas há um bloqueio inconsciente da simplicidade.

 O modo mais fácil apoderou-se de coraçoes e mentes.

 Se há facilidade de comunicaçao, mandamos sinais de fumaça.

 Se tudo pode ser mais facil, escrevemos cartas expondo a caligrafia torta.

Havendo mais facilidade, enviamos telegramas de minimas palavras .

E como tudo se " aprimora", mandamos e-mails curtos, pois objetividade é o que interessa.

 Com mais rapidez, encaminhamos mensagens de texto.

 E para não haver exposiçao da escrita, realçando ainda mais a predominância da aparência, gravamos áudios que sobrevivem poucos minutos.


Porém, há ainda esperança de que as correntes dos rótulos que oprimem, se rompam de vez, dando lugar a um estado natural de compreensão, sem amarras.

Será quando o observador ampliará seu leque, celebrando a vitória da essência   sobre o momentâneo.

E nao será necessário adivinhar sobre qual assunto estará sendo falado pois tudo será transparente e todos estaremos nus.

Olinto Campos Vieira, 02 de Novembro de 2018.