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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Esperanza, no hay!

Todo mundo comenta o beijo traído,
O ministro banido, o ladrão do bandido.

Todo mundo sabe de tudo um pouco
e não se aprofunda no alto, jamais.

Será que há profundidade em cima?

Terá profundeza o meu coração?

Aliás, "todo mundo" é gente demais
comentando o pequeno deslize
e a grande tragédia.

Haverá alegria ou solitários  no banco de trás?

Aqui,  país paraíso, não existe vulcão.
A lama que corre é acidental, uma vez, duas vezes e outras tantas  mais.

E o nosso torrão propala a paz cujo nome é o nome do condomínio eterno onde o mau descansa e o bom se desfaz.

Não há terremoto nem furacão, mas há motoqueiros em dupla, em ação, "cuidado na esquina!".

 No outro dia bem cedo o nobre gari limpa o sangue no chão.

"Viemos do Egito e muitas vezes ( sempre) tivemos que rezar":

"Allah, Allah, Allah meu bom Allah", Jeová, Elohim, Yaveh, salve nossa terra,  mas nos salve de nós mesmos, meu bom Allah.

Viemos do Egito, Portugal, Sudão e desde o berço aprendemos a dançar, falar, ganhar dinheiro, perder dinheiro,  morrer e matar.

Não importa se a rima é pobre . A poesia é rica, é forte, é mel. Qualquer dela ficará mais do que todo assunto de hoje ( menos a do Michel )

É assim!  Mesmo crua , isso aqui é poesia e em algum lugar deve ter uma rima, a água doce do rio tem estricnina escorre e soterra homens e animais.

Todo mundo fala do presidente da confraria dos madeireiros do pau brasil , o que ele come, o que ele excreta, com  intimidade fenomenal.

 Uns falam bem, uns falam mal, sorrisos,  piadas, festa e carnaval.

Falam da garota de programa da China, da freira de Maracay, da ramera da Venezuela, da   religiosa de Xangai.

Falam de quase todos, e só   de pessoas; de gente que sobe, de gente que cai. 

Mas não falam de coisas, de casas, lugares, nem nada de bom. " Esperanza no hay".

A vida é ceifada sem explicação e o ator flagrado beijando outra moça vem humildemente respeitando o público e com grandeza de pulga, pede perdão.

Com colhão, sem colhão,
 a vida privada é o prato do dia e a tatuagem é a nova RG.

(Ate me peguei pensando em pagar um 'tribal tatoo' no pescoço por falta de ter algo bom para fazer.)

O que ainda agora chamava atenção
Amanhã se eu lembrar, alguem vai esquecer.

O soluço do pai cujo filho sumiu, a Frota , a Fruta e a serpente sutil nao é mais importante que o beijo molhado, da atriz descerebrada e seu desencefálico galã viril.

A última escalação, o milhão, o bilhão, o crack de bola e de pedra na mão.  O perfeito par feito perfeito idiota jamais produzido pela televisão.

O grupo do zap,  o face do cão tem oito bi seguidores postando "bom dia" e o Montenegro, o eterno chato,  cantando a nossa infinda agonia.

A visão azulada da rede na mão, o assunto rasante é dinheiro, política e cobra. Se não for nada disso, tem tempo de sobra.

Fazenda tesouro, ganhando o pão
Morrendo de fome na multidão
comentando elétrico, a traição
do galã varonil que abalou a nação.

Agora eu pergunto, ainda há esperança? Ainda há algo Justo e Perfeito? ainda há esperança, meu Grande Irmão??

( Olinto Campos Vieira)

O Horizonte

O ponto de partida
é o ponto de chegada
Comemorado ou ignorado
por ele ou por ela
É onde se conseguiu chegar
Onde se decidiu começar
Cansou, respirou, prosseguiu.
Exausto, parou, desistiu.
Eu, ela, você
Aqui dentro
Lá fora
Um limite para ver
O horizonte do agora.
Um local para derramar
O sal na terra,
Um lamento,
Um sorriso,
Uma vitória
Uma história para contar
Outra para viver
Outra para guardar na memória
Há vidas que guardam limites
Como  marco zero  de uma trajetória
Linha invisível, para uns aparente
Do fruto, a semente
Que definha ou germina
Há quem exige e quem implora.
Na vida, só há diamantes
Mesmo que se sintam
escória.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Ciclo


Os Homens já chegam com certeza do Adeus
Os filhos crescem e se transformam em pais.
Os pais crescem com o dever da paz.
A paz cresce e forma o nome de Deus.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Vida que segue

Todos dizem “vida que segue”
e o suor escorre nos rostos cansados e sérios.
Movimentos  frenéticos de bicicletas e esteiras de academia;
Cansaço extremo sem sair do lugar.
Tudo conectado ao “vida que segue” como o filme de nossas vidas,
feito pelos donos sem face das redes sociais.
E tudo isso com o recado subliminar:
“ Eu sei o que você fez no segundo passado”
A vida segue sem ir a nenhum lugar,
pois não vivemos as nossas vidas.
Falamos dos homens poderosos e inacessíveis
com incrível intimidade, chamando pelo primeiro nome.
E da mesma forma falávamos há dez anos
com os outrora poderosos inacessíveis
que hoje já são anônimos.
O capitalismo é atraso, socialismo à vista.
O Socialismo é atraso, capitalismo é o novo.
Trocamos Marx por Mark;
Encampamos a ditadura do pre letrariado.
Não se acredita mais nem em Adão e Eva,  quanto mais Adam Smith;
mas o fruto que a serpente ofereceu tem grife;
com mordidinha e tudo.
Apple não é mais o pseudofruto pomáceo da macieira.
Galaxy não é mais um sistema estelar isolado no espaço cósmico.
Somos buchas de canhão e se não há nada de novo na guerra,
vamos ficar  zapeando no front.
Se nao há mais manchetes do dia, eu mesmo faço a minha:
“Fulano de tal está se sentindo entediado na linha de frente da guerra”
Na correria em círculo vicioso, tudo é noticia em tempo real.
E todas elas mudam;
fazem famosos a cada 15 segundos, na vanguarda da profecia de Andy Warhol.
O namorado sem nome da apresentadora frequenta o imaginário popular e atualiza o Genival:
"Ele está de olho é na butique dela."
A volta dos que não foram é o filme do momento.
A coluna social virou policial, o que não é novidade.
Ambas não vendem jornal pois não existe jornal.
E o que interessa não é o que interessa.
Laudas e laudas são escritas e em seguida apagadas;
Afinal, a memória importante é do aparelho e não a minha.
E no toca fitas do meu carro,  procuro no “dial” do meu dente azul
alguma música que preste.
Um refrão ecoa, irritante e ininterrupto :
“O nome dele é Zuckerberg
Encontrei ele no face

O nome dele é Zuckerberg
Encontrei ele no face”

( Olinto Campos Vieira)

Fevereiro - Matilde Campilho


 Escute só, isto é muito sério.

Anda, escuta que isso é sério!

O mundo está tremendamente esquisito. Há dez anos atrás o Leon me disse que existe uma rachadura em tudo e que é assim que a luz entra, não sei se entendi. Você percebe alguma coisa da mistura entre falhas e iluminação?

Aliás, me diga, você percebe alguma coisa de carpintaria? Você sabe por que meteram um boi naquele estábulo ao invés de um pequeno rinoceronte? Deve ter tido alguma coisa a ver com a geografia. Ou com os felizmente insolussionáveis mistérios que só podem vir do misticismo asiático. Um boi é um bicho tão… inexplicável. Ainda bem.

O amor é um animal tão mutante, com tantas divisões possíveis. Lembra daqueles termômetros que usávamos na boca quando éramos pequenininhos? Lembra da queda deles no chão?

Então, acho que o amor quando aparece é em tudo semelhante à forma física do mercúrio no mundo. Quando o vidro do termômetro se quebra, o elemento químico se espalha e então ele fica se dividindo pelos salões de todas as festas. Mercúrio se multiplicando. Acho que deve ser isso uma das cinco mil explicações possíveis para o amor.

Ah é! Eu gosto de você. A luz entrou torta por nós a dentro, mas, olha, eu gosto de você! A luz do verão passado quebrou o vidro da melancolia e agora ela fica se expandindo pelas ruas todas. Desde aquele outro lado do Sol até esse tremendo agora.

Hoje ainda faz bastante frio. As cinzas ainda não aterraram sobre as cabeças disfarçadas, tem gente batucando suor e cerveja pelas ruas de nossa cidade sul. Na cidade norte, há ondas de sete metros tentando acertar no terceiro olho dos rapazinhos disfarçados de cowboys.

O mestre ainda não veio decretar o começo da abstenção e, olha, a luz ainda está conosco. Sim, o mundo está absurdamente esquisito. Já ninguém confia nas imposições dos prefeitos, a esta hora na terra é um tanto carnaval, um tanto conspiração, um tanto medo. Metade fé, metade folia, metade desespero. E, provavelmente, a esta hora, uma metade do mundo está vencendo e a outra metade dormindo, há ainda outra metade limpando as armas, outra limpando o pó das flores. Mas, por causa do que me ensinou o místico, eu acredito que exista, agora, alguém profundamente acordado. Alguém que esteja vivendo entre o intervalo tênue entre o sonho e a agilidade. Suponho que ele saiba perfeitamente que este começo de século será nosso batismo do voô para nossa persistência no amor.João molhou a testa de Manuel. Os gritos das ruas molham as testas de nossos corações.

De que lado você está, eu não me importo! De que garfo você come, de que copo você bebe, que posto certo você escolhe, qual é seu orixá, seu partido, sua altura, de qual de suas cicatrizes cuida, que pássaro você prefere, quem é seu pai, qual é seu samba, Pinot noir ou Chardonay, que protetor você usa, qual é sua pele, seu perfume, qual político, quantos amores você sonha, em que Fernando, em que Ofélia, em que cinema, em que bandeira, em que cabelo você mora, qual dos túneis de Copacabana. Rezo para seus santos quando atravessar.

É… é impossível viver no país de Deus. Isso eu te dou de barato. Mas, atravessar o gramado de Deus em bicicleta, isso não é impossível, não.

Escuta, isso é sério!

Andamos crescendo juntos, distraidamente. As árvores crescem conosco.

Nossa pele se estende, nosso entendimento, teso, também. O século cresce conosco. O amor pelas ventas da cara do mundo, também.

Quanto a um pra um entre nós dois, isso logo se vê. Não sei nada sobre a paixão, suspeito que você também não. Mas, começo a entender que o compasso da fé está mudando a passos largos. Dois pra lá e dois pra cá.

Portanto, escute.

Isto é muito serio!

Isto é uma proposta aos trinta anos.

Agora que o mercúrio assumiu sua posição certa, vem comigo achar o meu trono mágico entre a folhagem. E, no caminho até lá, vem dançar comigo, vem!