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segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Incômodo com a poesia

Ver criar incomoda os que lidam com ego, copiar o já estabelecido e tecnicamente reproduzir é algo que está aquém do criar.


Como está aquém o que povoa a mente de teorias que facilmente serão esquecidas, pelo pouco conteúdo que as rodeiam


É, eu sei. Poesia é algo de difícil compreensão e no mundo pós pergaminho, é guardada em caixas de brinquedo e diversão.


A Divisão hoje é do joio. O trigo já não tem tanto valor. Tudo virou competição e relativisou-se todos os conceitos. Menos a poesia.


Nos muros e viadutos , Gentileza já fazia sua poesia autografada. Nas folias de boi, impossível distinguir a voz predominante, não sou EU, é o conjunto.


A teoria da construção de helicópteros era para Leonardo, uma diversão com memória seletiva. Sua personalidade era o supra sumo.


Hoje tantas coisas perderam o sentido quando olhadas de perto. Pastor, excelência,  doutor,  capitão. Em todos os termos, poucos o são. 


Então,  Escrever, do jeito sagrado que sempre foi, é maior que tudo. Seja com Paulo nas cavernas,  ou com Drummond, na repartição pública.

Sempre existiu poesia sem rima e prosa poética nas gavetas de grandes escritores, de forma mais densa do que a publicada.

sábado, 3 de outubro de 2020

O Suficiente

A vida me ensina que sou suficiente. Há verdades de música que são irreais. Só é possível ser feliz sozinho, perder minha liberdade jamais.


A gente se doa, completa e soma.

Se une, eleva a alma com alguém

Mas nossa essência é saber estar só; sem isso, não cativaremos ninguém.


Espaço.  No Espaço firmamos compromisso de vir a este mundo, só. Precisamos de espaço pois um dia iremos, únicos, cada um por sua vez, voltarmos ao pó.


Sabedoria é ter calma, saber se conter, para se equilibrar nas ondas do mar, suportando chuva, calor e frio, aprendendo a viver, aprendendo se amar.


(Olinto Vieira)

Gueto

Um reino com deveres afins. O direito de conhecer era maior que tudo, o passar do tempo o deglutiu,  criou o ouvinte cego e mudo.


Um gueto formal e chavões perfeitos para qualquer escolta. Ao oprimido, vítima, a lágrima da dor, colheita, a descarga da dor, revolta.


Reino onde o coração parecia aquecido, mas chegando mais perto, pisado. Lugar tomado do criador, que tudo vê antecipado.

Poder de mandar e punir inebria, ainda mais por quem não teve nenhum poder na vida. Os devotos dos reis da escada em descida. 


Mas a origem não assiste de braços cruzados, torturas, indiferente. Sabe hora e jeito. Sabe quem é quem, bicho e gente.


( Olinto Vieira)

A Fila

A fila está desorganizada, irresignada, fila revolta, 

parece uma multidão. 

Gente com esperança, 

alguns com ânsia 

de algo que não sabem definir. 

Não há organizadores, nem senhas, 

abandonaram, todos, as mascaras.

Ha um frenesi, 

passos giram, 

de trás para frente,  descontrolados, 

não se vê caminho, 

se ouve murmúrios. 

Não há mais gurus, professores, questão de ordem, juízes, intelectuais, suplentes,  presidentes , pobres ou ricos. 

Ha a fila!


E o Horizonte, colossal, observando a todos, 

presos em sua liberdade de ir e vir.

Uma liberdade está além de qualquer pandemia, de ficar em casa.

Falo por mim:

' La vamos, condenados por nós mesmos na busca da felicidade.

Que nem sabemos decifrar.'


Um se acalma e olha o firmamento,  sente a paz ultrapassando o medo. Sentimento contagia de saudade, de um tempo que já viveu.

Tempo etéreo, não esse que tentamos aprisionar em relógios.


A fila não tem frente nem fim. 

Então seja você, com toda vibraçao

verdadeira que o Universo pulsa dentro de você.


( Olinto Vieira)

Mergulho

Fugindo, há muitas bandeiras a levantar para cobrir a sua.

Há ditaduras, perseguidos, fome, bizarrices mil.


Fugindo, você pode lutar a favor de qualquer uma delas. É mais fácil do que enfrentar um quarto fechado e luzes apagadas, sem sono.


Há várias cidades e em cada uma delas há oprimidos e opressão. Gente a ser defendida e outras a serem combatidas. Desde que o mundo é mundo.


Fugindo, você pode escolher a causa a se engajar, desde que não seja preciso olhar para o espelho, para o seu olho; para dentro de si.


É como escolher trilhar uma estrada sinuosa, ocupando-se com as curvas, do que uma estrada reta, livre para pensar.


Pegar alguém pela mão é nobre, assim como é descobrir a causa de todas as suas próprias dores e curá-las. Uma por uma.


Um mundo de pessoas que não precisam fugir de si mesmas é um lugar que ainda não conhecemos.


Talvez seja esse o começo de travar batalhas verdadeiras para vencer por definitivo.


Ou o começo da vitória de quem soube se curar para ensinar outros a fazer o mesmo, à sua maneira.


(Olinto Vieira)

Singular

Você vê seus defeitos, sabe deles. E digo você na primeira pessoa do singular, para me esconder um pouco, pois não sou de ferro.


Conhece suas teorias de tapar buracos com isopor. Entende como ninguém fingir estar de olhos fechados. Vive sua agonia mas se acostumou com sua beleza, ela não te satisfaz. 


Seu atrativo é desconhecido, é esse cotidiano, como o homem antigo que lia a coluna policial no jornal de cada dia. Jornal novo, sangue velho.


Para suportar a vida é preciso ser herói, é preciso ter superpoderes de acordar toda manhã e fazer um desenho novo com o traçado dos pés.


(Olinto Vieira)