Em uma pequena cidade entre as montanhas de um
pequeno Vale, há muitos anos atrás, vivia um povo bom. Ordeiro, simples,
nostálgico, amigo e pacífico. Porém, esse povo tinha um pequeno defeito. Não sabia de sua própria força. Sempre achava
que o vizinho tinha mais capacidade do que ele. Por causa desse defeito, instalou-se uma praga. Todas as pessoas
nasciam cegas. Não podiam ver. E enquanto mais os olhos eram deficientes, mais
a boca se agigantava. Aproveitando-se dessa deficiência, os governantes, mesmo
cegos, sugavam cada vez mais do já sofrido e inerte povo. Tantas foram os
desmandos que Deus lançou um desafio.
Quando mais seu povo crescia, mas seus governantes se apequenavam. Tembakau era
única. Tinha personagens peculiares. E
muitos diziam que a pena de não enxergar era injusta. Mas Deus sabe o que faz.
Até que um dia, os governantes de Tembakau se tornaram anãos. Anãos de 70
centímetros. Mas o povo não podia ver isso, porque era cego. Eles se sentiam
pequenos pois recebiam visitas de outros povos e mesmo sem poder ver, o
sentimento era de diminuição e devoção ao que vinha de fora. O Tembakausense
típico era generoso, solidário e de uma paz que remontava os idos de sua
criação. Pessoas silenciosas que acolhiam aprazivelmente quem lá se aportava.
Pelo tratamento especial com os visitantes, muitos deles foram cativados e
resolveram lá viver. Uns, se integraram plenamente à cidade, o jeito das
pessoas, costumes e até mesmo as qualidades. Outros nem tanto. Foram acolhidos
e mesmo sem raízes no Município, com a índole malevolente e externa, passaram a
instalar o ódio pelo povo da cidade, antes ordeiro. Os que assim agiam,
aproveitavam-se de que não eram cegos e podiam enxergar astuciosamente, foram
ensinando alguns moradores a como enxergar também. Passaram então a aliciar
aquelas pessoas que não tinham o sentimento tão puro como a maioria e essas
pessoas foram corrompidas, passaram a ver e assim, torraram-se cupinchas dos
que chegaram e foram de boa vontade abraçados pelos tembakauenses de raiz. Esses
forasteiros sem história no povoado criaram uma aura de falsa moral, forjaram relacionamentos carcomidos pela
aparência, pela devassidão, pela degradação moral, pela perversão de costumes,
espalhando ódio e ironia diabólica entre as famílias de anões que antes viviam
em paz. O povo continuava sem saber de sua real força e foram dominados pelo
medo e confundidos pelo sentimento de confronto entre si mesmos. A cidade então
passou a não crescer, ficando anã, como seu povo. Outro fenômeno se sucedeu. Os
desordeiros que visavam apenas o poder e a discórdia, com o passar do tempo diminuíram
de tamanho e passaram a se chamar epalburuk. Mas o povo já estava tão
acostumado com sua presença que o tinham como heróis, enquanto isso, o que
antes era uma cidade de honra e glória, passou a ser de desordem e retrocesso,
desvirtuando-se em ironias, chacotas, deboches, maldades , tudo fomentado pelos
epalburuk. Se em terra de cego quem tem um olho é rei, imagine quem tem os
dois.
3 comentários:
Uma narrativa interessante, que mostra o comportamento dos seres humanos, a face cultural, valores e as relações existentes que degradam ou elevam a nossa cultura, história e o campo de produção social. São pilares de concepção, percepção e agir que norteiam os pensamentos, seja de uma condição lendária ou real. Este tipo de narrativa composta destas observações de organizações e povos, são fundamentais para serem incorporadas na educação escolar.
Grato meu caro amigo. Talvez nem eu tivesse visto isso!
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