A obra
Trabalho e preguiça, preguiça e trabalho.
Preguiça é passar pelo mundo, fazendo.
Os mais preguiçosos são os que mais fazem;
A qualquer hora do dia e da noite, eles fazem.
Em momentos inimagináveis, fazem.
Um preguiçoso não se contém, produz o que mais povoa o mundo.
O preguiçoso é exaustivo quando encontra a fórmula estática que o impede de buscar algo produtivo.
Eles fazem tudo por dinheiro, cobram caro pela obra.
A preguiça faz do gênio, um mero "fazedor".
Mas um homem de verdade sabe bem o que é o seu trabalho.
" E sem o seu trabalho, o homem não tem honra."
E chamo de homem quem vive a vida fazendo o bem.
Quando faz o mal, se sufoca, quase morre;
não se contenta enquanto não se redime;
Redenção consigo mesmo, pois o homem mesmo chora a dor.
Homem mesmo sabe quando errou.
Já os preguiçosos se sentem certos e são indiferentes a qualquer ideia que os faça pensar.
A sua obra surge do grande volume de conhecimento que eles desprezam.
Não param de trabalhar a obra tenebrosa e fétida,
insignificante e de vida curta.
Trabalham até espumar os cantos da boca.
Trabalham até suar as têmporas.
Trabalham lendo bulas de remédio ou rótulos de desinfetante.
O habito de produzir já os consumiu e quando menos se espera, lá estão eles na labuta!
Com o cérebro solto, fazem duas, três, quatro vezes por dia, com facilidade.
Gemendo ou silenciosos,
urrando de prazer, alívio e felicidade, olhando sempre para o chão.
O chão. Estão no chão, depositam tudo no chão.
E enquanto fazem, não pensam senão naquilo.
Concentrados, animados, vantajosos, soberbamente eufóricos com o tamanho do que fazem!
Orgulhosamente, olham a obra, gostam do que vêem e consigo ouvir o que dizem, os preguiçosos:
Eu fiz! Fiz! Sim, fiz! É meu! Só meu!
Somente aí, e mesmo assim com apêgo, libertam a obra que, rodopiando no redemoinho aquático , escorregam, dançando e viajando cano baixo.
E logo então, saem por ai a produzir mais.
Empoderam mentes sem temperança de súditos em transe, mais preguiçosos ainda.
Na realidade, ali nao há líderes.
Todos são prisioneiros de uma inteligência rançosa.
formam legiões, fazem guerras,
estão destinados a história de pequenos mundos transitórios.
Cantarolam sem parar musicas sem sentido com palavras de efeito menor.
Eles não se cansam de esperar a próxima tragédia, particular ou pública, pois já são acostumados ao caos interno.
Paz de cemitério, cegos no dicionário, elefantes no relicário.
Procurando escândalos no depósito de lixo, confundem pesadelo com realidade e alardeiam sobre si mesmos, histórias que nunca viveram,
livros que nunca leram, filmes que nunca viram.
Dormem sempre cedo e sonham com o cotidiano tedioso da ignorância.
Vivem do aluguel irrisório de seus inquilinos perpétuos; se especializaram em hospedagem parasitária e os trata magnificamente bem . Se sentem até devedores.
Homem de verdade não precisa buscar
na memoria a verdade que viveu. Ela esta lá.
Assim não precisa repetir mentalmente quem ele é como o preguiçoso suado que tenta decorar a historia que conta,
no interesse de manter a mentira como verdade.
o homem de verdade versa sobre si na prática do bem;
o preguiçoso versa sobre a prática do bem do outro, querendo traduzí-la para o mal, ignorantemente.
Ele e sua obra são iguais, e até mesmo aprecia o bafio que exala e permanece.
Alavancas de um mundo obtuso, os preguiçosos são atuantes na lida retardatária e depositam suas esperanças no fundo do abismo, querendo nos obrigar a buscá-las.
Que desçam cada um e tomem posse delas. Nada meu há ali, além de um pedido de socorro para eles:
Piedade, piedade, piedade!
(Olinto e Lincoln Campos Vieira)
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