O ser humano as vezes corta palavras, quer sintetizar, quer o necessário, compreendendo equivocadamente o que disse o poeta. Hoje ensina-se o necessário e se contenta com o necessário. Se exalta o necessário, até! Quando ouvimos uma bela música, tem até quem lê " a amizade sincera" e não compreende a sensibilidade da poesia e diz que "toda amizade já é sincera". E , " é um santo remédio, um abrigo seguro", em seu crivo, só consegue ver um 'remédio e um abrigo', ja que ambos, por sua natureza, são santos e seguros. Mas venho aprendendo que o amigo pode sim ser redundante, farto, generoso, sem exagero. O superficial constrói laços superficiais, com linhas frágeis, incapazes de resistir às intempéries próprias da amizade e acredita (quase). Amizade à distância virou praxe. Rochedo e mar não existem nesse tipo de ligação. " Por isso, se for preciso, conte comigo, amigo, disponha!" Sim, nas lutas do dia a dia, sorrisos e lágrimas, saber que as palavras acima sao mais do que meras palavras, confortam, faz sentir a mão na mão, de forma segura e firme. Um pai ou um amigo nao dorme direito se um filho ou amigo sofre no quarto ao lado. Amigos de telefone, de WhatsApp, da consistência do algodão doce, se proliferam na correria do dia a dia. Um milhão de amigos é meta, mas "mesmo apesar de tão raros não há nada melhor do que um grande amigo." Aquele que tem uma pequena casa com um imaginário portão bem largo
"que é pra se entrar sorrindo
nas horas incertas, pois amigo é pra ficar, se chegar, se achegar,
se abraçar, se beijar, se louvar, bendizer
Amigo a gente acolhe, recolhe e agasalha
e oferece lugar pra dormir e comer". E as "horas incertas", tão bem ditas pelo poeta, são aquelas em que não pensamos em nossas dores e sim na dor do amigo. Afinal de contas, nessa vida, nossas lágrimas mais sagradas e dolorosas são, em grande parte, causadas por quem nos ama. Pais, filhos, irmãos, amigos de longa convivência. Pessoas que, "teoricamente" queremos bem. E hoje, na grande sala de espera de uma UTI, vejo pessoas desconhecidas chorando, e sem nenhuma explicacão, se abraçando, sem saber sequer o nome um do outro e se amparam e são amparados. Em um minuto o coração faz feliz e já se sente feliz. Esse é o convívio do crescimento, o olhar que lhe é dirigido, o sorriso, o ombro. Essa é a vida real. ( Olinto Campos Vieira, primeira quarta feira de julho de 2018)
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