Quando era criança, meu pai comprou uma fita cassete do Benito de Paula e eu ouvia uma música que começava assim: "quem me vê sorrindo desse jeito nem sequer sabe de minha solidão". E era como eu me sentia. Um senso de humor só meu, só com pessoas selecionadas pela minha sensibilidade. Aos outros, silêncio, falta de assunto, timidez. Assunto para mim não faltava pois eu lia muito, ouvia musica boa, sempre me interessei por arte. Mas compartilhava somente com poucos amigos. Ainda existia uma dor perene, lágrimas que não tinham uma fonte certa, um vazio, incerteza. Coisas que hoje se tratam com palavras, autores, livros e medicamentos iguais para pessoas diferentes. Nomes que ganham significados sofisticados e eu nao desprezo. Vencendo aos poucos a insegurança, descobri como utilizar algumas coisas positivas para eliminar negatividades. Para a timidez, um gesto inesperado de humor que cativa. Para o complexo de inferioridade, o estudo concentrado em algo que eu me considerava incapaz de resolver. Para o reconhecimento, um olhar firme, uma palavra forte, um passo decidido. Descobri um líder. Sem livros de auto ajuda; não que eu seja contra, pois lutando contra preconceitos, aprendi que algumas pessoas utilizam a crítica para menosprezar quem eles próprios querem ser e não conseguem. A própria vida me mostrou de onde vim e hoje vejo mais claro. E continuando a música que meu pai gostava quando eu era menino, homenageio a ele mesmo, que ontem completou quatro meses de uma luta que poucos sobreviveriam como ele vem vencendo: " é que meu samba me ajuda na vida,
minha dor vai passando, esquecida
vou vivendo essa vida do jeito que ela me levar.
Vamos falar de mulher, da morena e dinheiro
Do batuque do surdo e até do pandeiro
Mas não fale da vida, que você não sabe
O que eu já passei
Moço, aumenta esse samba que o verso não pára
Batuque mais forte, a tristeza se cala
Eu levo essa vida do jeito que ela me levar
É do jeito que a vida quer
É desse jeito." (Olinto Campos Vieira, primeira quinta feira de julho de 2018.)
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