Sem noção, sigo distribuindo panfletos.
As pessoas passam,
os carros passam,
eu passo, sigo, volto.
Sem perceber, atropelo-me, me esbarro nas palavras, esparramo a voz do meu jeito, me atrapalho.
Sem querer saber, me chamo na primeira pessoa do singular com a ansiedade plural dos afoitos.
Sem me importar, entro em qualquer casa, cheiro o chão, urino nos cantos, marcando um falso território.
E então, alguém me mostra algo que eu não conhecia, um espelho sem distorção.
E de repente, não mais que de repente, me vejo, me enxergo, me olho, me sinto, me espanto.
sou engolido por inteiro pelo espelho e desde então, vivo preso no que eu pensava ser e não quero sair.
(Olinto Vieira)
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