"Outro dia presenciei uma cena interessante e que reflete uma “globalização”de costumes, que vem se manifestando de forma inusitada e surpreendente.
Passei em frente a uma construção e um pedreiro gritava para o ajudante assim:
Ei Zé, não sobe para a laje agora não, fica de stand-by aí embaixo...
Achei engraçado ele utilizar um termo em inglês, de uma forma assim natural!
Hoje em dia todo mundo quer parecer esperto, inteligente e na moda. Recebi um e-mail de um leitor e resolvi abrir com vocês as críticas que ele me fez, que tem tudo a ver com o diálogo do pedreiro.
Claro que fiz algumas adaptações para dar uma “ilustrada”, mas a essência permanece:
“ Caro colunista, outro dia, lendo sua coluna, tive um insight interessante a respeito do isolamento que nós estamos aqui na Amazônia. É isso mesmo.
O mundo dito ‘civilizado’ nos relega a um plano underground meio cult meio trash e se aproveita de um suposto distanciamento, criando as suas próprias filosofias a nosso respeito.
Fazem um check-list de nossas pseudo necessidades e vem sempre com o mesmo discurso blasé, depreciativo e mascarado a respeito dos chamados povos da floresta.
Olha colunista, a impressão que tenho é que estamos sempre em off; o fato de o mundo achar que somos undergrounds não é nem um pouco positivo para nós, pois a nossa voz não é marcante o suficiente para que tenhamos o necessário feedback.
Todo mundo precisa de feedback, colunista!
Hoje em dia as distãncias não separam nem isolam ninguém. Ta todo mundo linkado com as novidades e avanços do mundo moderno. Do Oiapoque ao Chuí. Engana-se quem pensa que somos menores ou inferiores a quem quer que seja.
Estamos todos plugados, antenados ao que há de mais moderno. É só ver como andam lotados os Cyber´s e Lan-Houses daqui e de qualquer cidadezinha do interior desse estado (ou desse País).
Hoje em dia, todo caboclo que se preza tem home-page, orkut, messenger, senão tá out. Então, colunista, estou te dando esse feedback para que você possa, com seu feeling jornalístico, trazer assuntos menos regionais e mais abrangentes, focando um público mais in.
Sem mais, um leitor atento aos avanços do mundo.”
Ao receber esse e-mail eu me lembrei imediatamente de uma música de um caboclo do Tocantins chamado Juraíldes da Cruz que fala assim: “Se farinha fosse americana, mandioca importada, banquete de bacana era farinhada.
Andam falando que nóis é caipora, que nóis tem que aprender inglêis, que nóis tem que fazê sucesso fora. Deixa de bestaje, nóis nem sabe o portuguêis.
Nóis somo é caipira pop. Nóis entra na chuva e nem móia, meu I love you, nóis é jeca mais é jóia.”
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