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segunda-feira, 23 de setembro de 2013

As Três Peneiras


Um homem, procurou um sábio e disse-lhe: - Preciso contar-lhe algo sobre alguém! Você não imagina o que me contaram a respeito de... Nem chegou a terminar a frase, quando Sócrates ergueu os olhos do livro que lia e perguntou: - Espere um pouco. O que vai me contar já passou pelo crivo das três peneiras? - Peneiras? Que peneiras? - Sim. A primeira é a da verdade. Você tem certeza de que o que vai me contar é absolutamente verdadeiro? - Não. Como posso saber? O que sei foi o que me contaram! - Então suas palavras já vazaram a primeira peneira. Vamos então para a segunda peneira: a bondade. O que vai me contar, gostaria que os outros também dissessem a seu respeito? - Não! Absolutamente, não! - Então suas palavras vazaram, também, a segunda peneira. Vamos agora para a terceira peneira: a necessidade. Você acha mesmo necessário contar-me esse fato, ou mesmo passá-lo adiante? Resolve alguma coisa? Ajuda alguém? Melhora alguma coisa? - Não... Passando pelo crivo das três peneiras, compreendi que nada me resta do que iria contar. E o sábio sorrindo concluiu: - Se passar pelas três peneiras, conte! Tanto eu, quanto você e os outros iremos nos beneficiar. Caso contrário, esqueça e enterre tudo. Será uma fofoca a menos para envenenar o ambiente e fomentar a discórdia entre irmãos. Devemos ser sempre a estação terminal de qualquer comentário infeliz! Da próxima vez que ouvir algo, antes de ceder ao impulso de passá-lo adiante, submeta-o ao crivo das três peneiras porque: Pessoas sábias falam sobre idéias; Pessoas comuns falam sobre coisas; Pessoas medíocres falam sobre pessoas. (atribuído a Sócrates)

domingo, 22 de setembro de 2013

INTIMIDADE - LUIZ FERNANDO VERÍSSIMO


"Os dois na cama.

— Bem...

— Mmm?

— Posso te fazer uma pergunta?

— Se você pode me fazer uma pergunta? 40 anos de casados e você precisa de permissão para me fazer uma pergunta?

— É uma coisa que me intriga há 40 anos...

— O que?

— A sua calcinha pendurada no box do chuveiro...

— Sim?

— Está ali para secar ou para molhar mais?

— Como é?!

— A sua calcinha pendurada no...

— Eu ouvi a pergunta. Só não estou acreditando. Há 40 anos você vive com essa dúvida? O que a calcinha dela está fazendo no box do banheiro?

— É. Ela foi lavada e está secando, ou está ali para receber mais água?

— E por que você levou 40 anos para me fazer essa pergunta?

— Sei lá. Eu...

— Você achou que nós não tínhamos intimidade o bastante para tratar do assunto, é isto?. Que eram necessários 40 anos de vida em comum para podermos discutir a minha calcinha pendurada no box sem constrangimentos. É isto? Você sabe tudo ao meu respeito. Sabe toda a minha vida, conhece cada estria e sinal do meu corpo, sabe do que eu gosto e não gosto, em quem eu voto, sabe as minhas manias e os meus ruídos, mas estava faltando este detalhe. Este ponto cego no nosso relacionamento. O que a minha calcinha faz pendurada no box do banheiro.

— Não, eu queria perguntar há tempo, mas...

— Já sei. Você achou que fosse uma coisa só de mulher, que homem jamais entenderia. As calcinhas penduradas no chuveiro seriam uma espécie de demarcação de território, um ritual de congregação tribal. Um mistério que une todas as mulheres do mundo e um terreno em que homem só entra com o risco de enlouquecer. Por isso demorou tanto para fazer a pergunta.

— Nada disso. Eu só...

— Francamente.

Ele já estava quase dormindo quando se deu conta. Ela não respondera a pergunta"

(Luiz Fernando Veríssimo)

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

ATIREI O PAU NO GATO....(Alípio Mário Ribeiro)

OUTRAS DO ALÍPIO!


"ATIREI O PAU NO GATO!
Como lembrei-me desta canção ontem.
Estava no Peba. Fui ao shopping passear com minha filha, Luana. Altos papos, revi velhos conhecidos, bons alunos, Ana Darc. Assisti ao filme “Dose dupla”. Porcaria! Dose dupla de tédio, mortes, estória sem sentido e lógica. Defeitos especiais de terceira categoria!
Fui pra casa onde eu morava. Ainda não consegui alugar. Luana foi comigo. Levei dois colchões, roupas de cama e, depois de repassar com ela literatura, português, fomos dormir.
O forro, de plástico, começou a tremer. Alguns barulhos “poltergesticos” começaram a ser ouvidos de lá. Deduzi que era um gato correndo atrás de um rato. Era mais de meia noite. O barulho amenizou e caímos no sono.
Cinco horas! Gente! Amigos facebookers, CINCO HORAS!!! E não são da manhã, não! Pra mim, 5 horas não são nem de madrugada, são altas horas da noite! Eu estava num sonho maravilhoso. Sob o sol ameno da Riviera Francesa, com minha adorada Vanessa ao meu lado, um saboroso coquetel de frutas tropicais, belas e seminuas mulheres trafegando pela praia e um negão de 2 m de altura fazendo massagem nos meus pés. Não! Não sorriam! É porque, até no sonho, a Vanessa me controla. Se eu sonhar com algo menos que um negão de 2 m fazendo massagem nos meus pés, é caixão e vela preta! Ainda mais agora que ela está pra ter licença para matar!!
Vocês já ouviram o barulho de um trovão depois de um super estalo de um raio ultra brilhante subindo pelo céu?? Vocês têm noção do que é um barulho de um monte de louças derrubadas do alto de uma cristaleira por um guri peralta com cara de anjo? Sabem o quão estridente é o barulho de uma caçamba quando descarrega areia na porta do vizinho e o motorista vai pra frente e freia pra tampa bater e cair o resto que ficou na carroceria? Pois é... Agora junta tudo...
O teto desabou, literalmente, sobre minha cabeça. Todo o barulho citado vezes 10 se fez retumbar pelo quarto!! O sonho virou um terrível pesadelo. Sorte da Luana que dormia do outro lado. Era pedra, bosta de rato, poeira, areia, pelos, pregos... PQP!! O grito estridente da Luana deixou-me mais desorientado ainda. Eu ali, com cara de besta, parado que nem um rato na frente de um gato sem entender merda nenhuma. Seria um terremoto? A casa estava desabando? Um ladrão? O capeta? O negão do sonho?
Não!!! O negão virou um gato feroz que caíra do teto!
A “anta do gato”, branco com preto, mais assustado que eu, tirou-me, dos milésimos de segundos que pareciam horas, de minha perplexidade. O “jumento do gato” caíra do forro em cima de minha cabeça. Do berro que ele deu, até meu c ...abelo estremeceu. O “cavalo do gato” saiu na carreira pra cozinha, miando, uivando, que mais parecia uma onça matando anta na mata!
Analisei minha situação. Nada de sangue na cabeça, nem de merda na cueca. Ufa... A Luana estava paralisada. Achei que fosse um fantasma. Parti em busca do “asno do gato”.
Achei a “égua do gato” lá no outro quarto, tremendo mais que eu. Peguei o cinto e dei-lhe umas 4 chibatadas. A “mula do gato” virou besta. Partiu pro revide. Quase atropelei a Luana na carreira de volta. O caçador tinha virado caça!
“Sou homem ou um pé de batata?” Apesar de minha consciência ter me dado a certeza da segunda opção, virei com um chute certeiro nas fuças do “burro do gato” que ele foi parar lá na janela da sala. O “paquiderme do gato” se agarrou na grade da janela e não largava nem pra fazer oração!!
Fui me armar. Achei uma barra de cano de PVC. Encarei o “cachorro do gato safado e brabo” e já ia dar-lhe no meio “duzoi”... O bicho me encarou como quem diz: “eu me rendo”... Em vez de bater, cutuquei pra tirá-lo de lá e coloca-lo pra fora. “Tô dizendo que não se confia numa peste desta”. O “piranha do gato” lascou-me a unha e os dentes. Arranhou meu dedão machucado que o sangue jorrou. Aí eu fiquei brabo! E tome-lhe porretada, quer dizer, canada de pvc!! Ele partiu pra cima do cano, mordia, aranhava e berrava. Fiquei "cabreiro". Se conseguia fazer aquilo com um cano, quiçá com minha cara de anjo lindo que mamãe fez.
Abri a porta da sala. O “macaco do gato” queria sair não. A Luana disse: “taca água nele”!! Pegamos um balde e deixamos cair a tempestade na cara do felino malino. Ele firme. Rosnava, fedia mais que carniça de urubu depois de 5 dias apodrecendo no lixão do Peba. Encaixei o cano das ancas do bichano e consegui empurrá-lo porta afora.
A “anta-jumento-cavalo-asno-égua-mula-burro-paquiderme-cachorro-piranha-macaco do gato” deu um urro e caiu pelo piso de cimento. “Morreu”, pensei... Meio desconfiado, fui, devagar olhar o patife. O pulo que ele deu superou o do “anticristo” no filme ”O exorcista”. Ele pulou pra frente e eu pra trás. Se não me caguei naquela hora, cago mais não. Devo estar doente com uma bruta duma ressecadeira de merda que nem cirurgia dá jeito.
Ele ficou lá, rosnando feito onça braba. Fui pegar o celular pra tirar uma foto. Nem pedi pra Luana. A “bicha reia” tremia tanto que não carregava nem os cabelos que estavam todos arrepiados e de pé!! Quando voltei, o “xanin” já tinha vazado...
Estou que nem dona Chica. Admirado, até agora, com o berro que o gato deu!



Alípio Mário Ribeiro