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sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Histórias iguais, destinos diferentes

João é um importante empresário. Mora em um apartamento de cobertura, na zona nobre da cidade. Enquanto isso, em bairro mais pobre de outra capital, vive Mário.
Num belo dia, João deu um longo beijo em sua amada e fez em silêncio a sua oração matinal de agradecimento a Deus pela sua vida, seu trabalho e suas realizações.
Após tomar café com a esposa e os filhos, João levou-os ao colégio e se dirigiu a uma de suas empresas. Chegando lá, cumprimentou com um sorriso os funcionários, inclusive Dona Tereza, a faxineira.
Tinha ele inúmeros contratos para assinar, decisões a tomar, reuniões com vários departamentos da empresa, contatos com fornecedores e clientes, mas a primeira coisa que disse para sua secretária foi:
"Calma, fazer uma coisa de cada vez, sem stress".
Ao chegar a hora do almoço, ele foi para casa curtir a família. A tarde tomou conhecimento que o faturamento do mês superou os objetivos e mandou anunciar que todos os funcionários teriam gratificações salariais no mês seguinte. Apesar da sua calma, ou talvez, por causa dela, conseguiu resolver tudo que estava agendado para aquele dia. Como já era sexta-feira, João foi ao supermercado, voltou para casa, saiu com a família para jantar e depois foi dar uma palestra para estudantes, sobre motivação para vencer na vida.
Enquanto isso, em bairro mais pobre de outra capital, vive Mário. Como fazia em todas as sextas-feiras, Mário foi para o bar jogar sinuca e beber com amigos. Já chegou lá nervoso, pois estava desempregado.
Um amigo seu tinha lhe oferecido uma vaga em sua oficina como auxiliar de mecânico, mas ele recusou, alegando não gostar do tipo de trabalho. Mário não tem filhos e está também sem uma companheira, pois sua terceira mulher, partiu dias antes, dizendo que estava cansada de ser espancada e de viver com um inútil. Ele estava morando de favor, num quarto imundo no porão de uma casa.
Naquele dia, Mário bebeu mais algumas, jogou, bebeu, jogou e bebeu até o dono do bar pedir para ele ir embora. Ele pediu para pendurar a sua conta, mas seu crédito havia acabado, então armou uma tremenda confusão... e o dono do bar o colocou para fora.
Sentado na calçada, Mário chorava pensando no que havia se tornado sua vida, quando seu único amigo, o mecânico, apareceu após levá-lo para casa e curando um pouco o porre, ele perguntou a Mário:
- Diga-me por favor, o que fez com que você chegasse até o fundo do poço desta maneira?"
Mário então desabafou:
- A minha família... Meu pai foi um péssimo exemplo. Ele bebia, batia em minha mãe, não parava em emprego nenhum. Tínhamos uma vida miserável. Quando minha mãe morreu doente, por falta de condições, eu saí de casa, revoltado com a vida e com o mundo. Tinha um irmão gêmeo, chamado João, que também saiu de casa no mesmo dia, mas foi para um rumo diferente, nunca mais o vi. Deve estar vivendo desta mesma forma. Enquanto isso, na outra capital, João terminava sua palestra para estudantes. Já estava se despedindo quando um aluno ergueu o braço e lhe fez a seguinte pergunta:
- Diga-me por favor, o que fez com que o senhor chegasse até onde está hoje, um grande empresário e um grande ser humano?
João emocionado, respondeu:
- A minha família. Meu pai foi um péssimo exemplo. Ele bebia, batia em minha mãe, não parava em emprego nenhum. Tínhamos uma vida miserável. Quando minha mãe morreu, por falta de condições, eu saí de casa, decidido que não seria aquela vida que queria para mim e minha futura família. Tinha um irmão gêmeo, chamado Mário, que também saiu de casa no mesmo dia, mas foi para um rumo diferente, nunca mais o vi. Deve estar vivendo desta mesma forma.
Moral da história: O que aconteceu com você até agora não é o que vai definir o seu futuro, e sim a maneira como você vai reagir a tudo que aconteceu. Sua vida pode ser diferente, não se lamente pelo passado, construa você mesmo o seu futuro.

Fonte: http://refletindoavida.blogspot.com

A História de Ernani e Mauro


"Certa vez trabalhei em uma pequena empresa de engenharia. Foi lá que eu conheci um rapaz chamado Mauro. Ele era grandalhão e gostava de fazer brincadeira com os outros, sempre pregando pequenas peças. Havia também o Ernani, que era um pouco mais velho que o resto do grupo. Sempre quieto, inofensivo, à parte, Ernani costumava comer o seu lanche sozinho, num canto da sala. Ele não participava das brincadeiras que fazíamos após o almoço, sendo que, ao terminar a refeição, sempre sentava sozinho debaixo de uma árvore mais distante.
Devido a esse seu comportamento, Ernani era o alvo natural das brincadeiras e piadas do grupo. Ora ele encontrava um sapo na marmita, ora um rato morto em seu chapéu. E o que achávamos mais incrível é que ele sempre aceitava aquilo sem ficar bravo.
Em um feriado prolongado, Mauro resolveu ir pescar no Pantanal. Antes, nos prometeu que, se conseguisse sucesso, iria dar um pouco do resultado da pesca para cada um de nós.
No seu retorno, ficamos todos muito animados quando vimos que ele havia pescado alguns dourados enormes. Mauro, entretanto, levou-nos para um canto e nos disse que tinha preparado uma boa peça para aplicar no Ernani. Mauro dividira os dourados, fazendo pacotes com uma boa porção para cada um de nós. Mas, a ‘peça’ programada era que ele havia separado os restos dos peixes num pacote maior, à parte.
– ‘Vai ser muito engraçado quando o Ernani desembrulhar esse ‘presente’ e encontrar espinhas, peles e vísceras!’, disse-nos Mauro, que já estava se divertindo com aquilo.
Mauro então distribuiu os pacotes no horário do almoço. Cada um de nós, que ia abrindo o seu pacote contendo uma bela porção de peixe, então dizia:
– ‘Obrigado!’.
Mas o maior pacote de todos, ele deixou por último. Era para o Ernani. Todos nós já estávamos quase explodindo de vontade de rir, sendo que Mauro exibia um ar especial, de grande satisfação. Como sempre, Ernani estava sentado sozinho, no lado mais afastado da grande mesa. Mauro então levou o pacote para perto dele, e todos ficamos na expectativa do que estava para acontecer.
Ernani não era o tipo de muitas palavras. Ele falava tão pouco que, muitas vezes, nem se percebia que ele estava por perto. Em três anos, ele provavelmente não tinha dito nem cem palavras ao todo. Por isso, o que aconteceu a seguir nos pegou de surpresa.
Ele pegou o pacote firmemente nas mãos e o levantou devagar, com um grande sorriso no rosto. Foi então que notamos que seus olhos estavam brilhando. Por alguns momentos, o seu pomo de Adão se moveu para cima e para baixo, até ele conseguir controlar sua emoção.
– ‘Eu sabia que você não ia se esquecer de mim’, disse com a voz embargada.
– ‘Eu sabia, você é grandalhão e gosta de fazer brincadeiras, mas sempre soube que você tem um bom coração’. Ele engoliu em seco novamente, e continuou falando, dessa vez para todos nós:
– ‘Eu sei que não tenho sido muito participativo com vocês, mas nunca foi por má intenção. Sabem… Eu tenho cinco filhos em casa, e uma esposa inválida, que há quatro anos está presa na cama. E estou ciente de que ela nunca mais vai melhorar. Às vezes, quando ela passa mal, eu tenho que ficar a noite inteira acordado, cuidando dela. E a maior parte do meu salário tem sido para os seus médicos e os remédios. As crianças fazem o que podem para ajudar, mas tem sido difícil colocar comida para todos na mesa. Vocês talvez achem esquisito que eu vá comer o meu almoço sozinho, num canto… Bem, é que eu fico meio envergonhado, porque na maioria das vezes eu não tenho nada para pôr no meu sanduíche. Ou, como hoje, eu tinha somente uma batata na minha marmita. Mas eu quero que saibam que essa porção de peixe representa, realmente, muito para mim. Provavelmente muito mais do que para qualquer um de vocês, porque hoje à noite os meus filhos…’, ele limpou as lágrimas dos olhos com as costas das mãos. – ‘Hoje à noite os meus filhos vão ter, realmente, depois de alguns anos…’ e ele começou a abrir o pacote…
Nós tínhamos estado prestando tanta atenção no Ernani, enquanto ele falava, que nem havíamos notado a reação do Mauro. Mas agora, todos percebemos a sua aflição quando ele saltou e tentou pegar o pacote das mãos do Ernani. Mas era tarde demais. Ernani já tinha aberto e pacote e estava, agora, examinando cada pedaço de espinha, cada porção de pele e de vísceras, levantando cada rabo de peixe.
Era para ter sido tão engraçado, mas ninguém riu. Todos nós ficamos olhando para baixo. E a pior parte foi quando Ernani, tentando sorrir, falou a mesma coisa que todos nós havíamos dito anteriormente:
– ‘Obrigado!’.
Em silêncio, um a um, cada um dos colegas pegou o seu pacote e o colocou na frente do Ernani, porque depois de muitos anos nós havíamos, de repente, entendido quem era realmente o Ernani.
Uma semana depois, a esposa de Ernani faleceu. Cada um de nós, daquele grupo, passou então a ajudar as cinco crianças. Graças ao grande espírito de luta que elas possuíam, todas progrediram muito: Carlinhos, o mais novo, tornou-se um importante médico. Fernanda, Paula e Luisa montaram o seu próprio e bem-sucedido negócio: elas produzem e vendem doces e salgados para padarias e supermercados. O mais velho, Ernani Júnior, formou-se em Engenharia; sendo que, hoje, é o Diretor Geral da mesma empresa em que eu, Ernani e os nossos colegas trabalhávamos.
Mauro, hoje aposentado, continua fazendo brincadeiras; entretanto, são de um tipo muito diferente:
Ele organizou nove grupos de voluntários que distribuem brinquedos para crianças hospitalizadas e as entretêm com jogos, estórias e outros divertimentos.
Às vezes, convivemos por muitos anos com uma pessoa, para só então percebermos que mal a conhecemos.
Nunca lhe demos a devida atenção; não demonstramos qualquer interesse pelas coisas dela; ignoramos as suas ansiedades ou os seus problemas.
Que possamos manter sempre vivo, em nossas mentes, o ensinamento de Jesus Cristo: ‘Como Eu vos amei, amai-vos também uns aos outros.'(João 13,34)."

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Grandes (Álvaro de Campos)

Grandes são os desertos, e tudo é deserto.  
 Não são algumas toneladas de pedras ou tijolos ao alto  
 Que disfarçam o solo, o tal solo que é tudo.  
 Grandes são os desertos e as almas desertas e grandes  
 Desertas porque não passa por elas senão elas mesmas,  
 Grandes porque de ali se vê tudo, e tudo morreu. 
 Grandes são os desertos, minha alma!
 Grandes são os desertos. 
 Não tirei bilhete para a vida,
 Errei a porta do sentimento,
 Não houve vontade ou ocasião que eu não perdesse.
 Hoje não me resta, em vésperas de viagem,
 Com a mala aberta esperando a arrumação adiada,
 Sentado na cadeira em companhia com as camisas que não cabem,
 Hoje não me resta (à parte o incômodo de estar assim sentado)
 Senão saber isto:
 Grandes são os desertos, e tudo é deserto.
 Grande é a vida, e não vale a pena haver vida, 
 Arrumo melhor a mala com os olhos de pensar em arrumar
 Que com arrumação das mãos factícias (e creio que digo bem)
 Acendo o cigarro para adiar a viagem,
 Para adiar todas as viagens.
 Para adiar o universo inteiro. 
 Volta amanhã, realidade!
 Basta por hoje, gentes!
 Adia-te, presente absoluto!
 Mais vale não ser que ser assim. 
 Comprem chocolates à criança a quem sucedi por erro,
 E tirem a tabuleta porque amanhã é infinito. 
 Mas tenho que arrumar mala,
 Tenho por força que arrumar a mala,
 A mala. 
 Não posso levar as camisas na hipótese e a mala na razão.
 Sim, toda a vida tenho tido que arrumar a mala.
 Mas também, toda a vida, tenho ficado sentado sobre o canto das camisas empilhadas,
 A ruminar, como um boi que não chegou a Ápis, destino. 
 Tenho que arrumar a mala de ser.
 Tenho que existir a arrumar malas.
 A cinza do cigarro cai sobre a camisa de cima do monte.
 Olho para o lado, verifico que estou a dormir.
 Sei só que tenho que arrumar a mala,
 E que os desertos são grandes e tudo é deserto,
 E qualquer parábola a respeito disto, mas dessa é que já me esqueci. 
 Ergo-me de repente todos os Césares.  
 Vou definitivamente arrumar a mala.  
 Arre, hei de arrumá-la e fechá-la; 
 Hei de vê-la levar de aqui,
 Hei de existir independentemente dela. 
 Grandes são os desertos e tudo é deserto,
 Salvo erro, naturalmente.
 Pobre da alma humana com oásis só no deserto ao lado! 
 Mais vale arrumar a mala.  

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Pedras no Caminho - Fernando Pessoa

Fernando Pessoa – Pedras no caminho


Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes,
Mas não esqueço de que minha vida
É a maior empresa do mundo…
E que posso evitar que ela vá à falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver
Apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e
Se tornar um autor da própria história…
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar
Um oásis no recôndito da sua alma…
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um “Não”!!!
É ter segurança para receber uma crítica,
Mesmo que injusta… 
Pedras no caminho?

Guardo todas, um dia vou construir um castelo…

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Já combinou com os russos?

"Conta a lenda que na Copa de 1958 o técnico brasileiro Vicente Feola reuniu os jogadores e combinou a estratégia para o jogo com a União Soviética. Dizem que a estratégia envolvia uma jogada em que Nilton Santos, Zito e Didi trocariam passes curtos no meio do campo para atrair a atenção dos russos. Vavá puxaria a marcação da defesa deles caindo para o lado esquerdo do campo. Depois de um tempo, Nílton Santos deveria fazer um lançamento para direita, alcançando Garrincha pelas costas do marcador. Garrincha dribla e cruza para Mazzola, que faria o gol.
Depois de ouvir com atenção, Garrincha, com a cabeça de gênio da bola e com a maior simplicidade possível, perguntou: Tá legal, Seu Feola… mas o senhor já combinou tudo isso com os russos?"
Márcio Fenelo

Soldado da Paz ( Herbert Vianna)

"Não há perigo
Que vá nos parar
Se o bom de viver
É estar vivo
Ter amor, ter abrigo
Ter sonhos, ter motivos
Para cantar.
Armas no chão
Flores nas mãos
Se o bom de viver
É estar vivo
Ter amor, ter abrigo
Vivendo em paz
Prontos para lutar.
O soldado da paz
Não pode ser derrotado
Ainda que a guerra
Pareça perdida
Pois quanto mais
Se sacrifica a vida
Mais a vida e o tempo
São os seus aliados..."


terça-feira, 22 de setembro de 2015

Sujeito de sorte (belchior)

"Presentemente eu posso me considerar um sujeito de sorte
Porque apesar de muito moço me sinto são e salvo e forte
E tenho comigo pensado Deus é brasileiro e anda do meu lado
E assim já não posso sofrer no ano passado
Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro
Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro"


terça-feira, 11 de agosto de 2015

SORRIA!

Feliz de quem tem os seus problemas
e mesmo assim, sorri:

"Sorria, embora seu coração esteja doendo
Sorria, mesmo que ele esteja partido
Quando há nuvens no céu,
Você conseguirá...

Se você sorrir
Com seu medo e tristeza
Sorria e talvez amanhã
Você verá o sol brilhando, para você

Ilumine seu rosto com alegria
Esconda qualquer traço de tristeza
Embora uma lágrima possa estar tão próxima
Esse é o tempo que você tem que continuar tentando
Sorria, o que adianta chorar?
Você descobrirá que a vida ainda continua
Se você apenas sorrir

Este é o momento que você tem que continuar tentando
Sorria, de que adianta chorar?
Você descobrirá que a vida ainda continua
Se você apenas sorrir" ( Charles Chaplin)

domingo, 12 de julho de 2015

Carta a um jovem Promotor de Justiça


"Caro Promotor: em resposta às indagações que me fizeste, segue o que penso a respeito.
Bem sabes que, dentre as relevantes funções que agora exerces, está a de acusar, tarefa das mais graves e difíceis, por certo. Pois bem, quando acusares – e tu o farás muitas vezes, pois o teu dever o exige – não esqueças nunca que sob o rótulo de “acusado”, “réu”, “criminoso” etc. há sempre um homem, nem pior nem melhor do que ti; lembra que nosso crime em relação aos criminosos consiste em tratá-los como patifes (Nietzsche). Evita incorrer nessa censura! Acusa, pois, dignamente, justamente, humanamente!
Lembra que, entre os teus deveres, não está o de acusar implacavelmente, excessivamente, irresponsavelmente. Se seguires a Constituição, como é teu dever, e não simplesmente a tua vontade, atenta bem que a tua função maior reside na defesa da ordem jurídica e do regime democrático (CF, art. 127), e não da desordem jurídica, nem da tirania. E defendê-la significa, entre outras coisas, fazer a defesa intransigente dos direitos e garantias do acusado, inclusive; advogá-lo é guardar a própria Constituição, é defender a liberdade e o direito de todos, culpados e inocentes, criminosos e não criminosos.
Por isso, sempre que te convenceres da inocência do réu, não vacila em pugnar por sua pronta absolvição, ainda que tudo conspire contra isso; faz o mesmo sempre que a prova dos autos ensejar fundada dúvida sobre a culpa do acusado, pois, como sabes, é preferível absolver um culpado a condenar um inocente. Ousa, portanto, defender as garantias do réu, ainda que te acusem de mau-acusador, ainda que isso te custe a ascensão na carreira ou a amizade de teus pares. Assim, sempre que o teu dever o reclamar, não hesita em impetrar habeas corpus, em recorrer em favor do condenado, em endossar as razões do réu, e jamais te aproveita da eventual deficiência técnica do teu (suposto) oponente: luta, antes, pela Justiça! Lembra, enfim, que és Promotor de Justiça, e não de injustiça!
E quando te persuadires da correção do caminho a trilhar, segue sempre a tua verdade, a tua consciência, não cede à pressão da imprensa, nem de estranhos, nem de teus pares; sê fiel a ti mesmo, pois quem é fiel a si mesmo não trai a ninguém (Shakespeare), porque não cria falsas expectativas nem ilusões.
Trata a todos com respeito, com urbanidade; sê altivo com os poderosos e compreensivo com os humildes; lembra que quem se faz subserviente e se arrasta como verme não pode reclamar de ser pisoteado (Kant).
Evita o espetáculo, pois não és artista de circo nem parte de uma peça teatral; sê sereno, sê discreto, sê prudente, pois não te é dado entregares a tais veleidades;
Estuda, e estuda permanentemente, pois não te é lícito o acomodamento; não esqueças que toda discussão tecnológica encobre uma discussão ideológica; lê, pois, e aplica as leis criticamente; não olvidas que teu compromisso fundamental é com o Direito e a Justiça e não só com a Lei;
Não te julgues melhor do que os advogados, servidores, policiais, juízes e partes, nem melhor do que teus pares;
Não colocas a tua carreira acima de teus deveres éticos nem constitucionais;
Vigia a ti mesmo, continuamente, mesmo porque onde houver uso de poder haverá sempre a possibilidade do abuso, para mais ou para menos; antes de denunciar o argueiro que se oculta sob olhos dos outros, atenta bem para a trave que te impede de te ver a ti mesmo e a teus erros; lembra que as convicções são talvez inimigas mais perigosas da verdade que as mentiras, e que a dependência patológica da sua óptica faz do convicto um fanático (Nietzsche);
Não te esqueças de que, por mais relevantes que sejam as tuas funções, és servidor público, nem mais, nem menos, por isso sê diligente, sê probo, sê forte, sê justo!"
Cordialmente,
Paulo Queiroz
(Procurador Regional da República)

PAULO QUEIROZ

Doutor em Direito (PUC/SP), é Procurador Regional da República, Professor do Centro Universitário de Brasília (UniCEUB) e autor do livro Direito Penal, parte geral, S. Paulo, Saraiva, 3ª edição, 2006.

quarta-feira, 6 de maio de 2015

O que houve por trás da reforma ortográfica. Afinal, a língua portuguesa pertencia a Antonio Houaiss?

Um artigo de Janer  Cristaldo, antes de implantada a reforma.


O acordo ortográfico ideado por Antonio Houaiss diz finalmente ao que vem. Leio na Veja que o governo abriu licitação para a compra de 10 milhões de dicionários que serão distribuídos em cerca de um milhão de salas de aulas da rede pública ainda este ano. É a primeira compra de dicionários desde 2006 – ou seja, os que estão hoje disponíveis são pré-acordo ortográfico.

Isto é só o começo. Depois terão de ser transpostos à nova norma os livros didáticos, os paradidáticos e toda a literatura nacional já publicada. Mais as eventuais reedições de traduções. A indústria editorial deve estar esfregando as mãos de felicidade. A negociata é de proporções colossais.

Portugal, a nação onde a língua nasceu, não gostou do acordo. E continua escrevendo como dantes. Um Conselho de Ministros deu um prazo – 2014 – para que os lusos passem a escrever segundo o acordo. Até lá, muita água ainda há de correr sob a ponte sobre o Tejo.

A tentativa de unificação das diferentes variantes do português, além de inútil, é estúpida. Mesmo que se unifique a grafia, resta o que mais diferencia as línguas. Me atenho ao português e brasileiro, já que desconheço as variantes de Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau ou Timor-Leste.

Quando passo em Lisboa, tenho às vezes vontade de falar outra língua, para comunicar-me melhor. Certa vez, em uma estação de trens, perguntei a um luso onde ficava os banheiros.

- O senhor quer banhar-se?
Não, respondi. Queria apenas urinar.
- Ah! O mingitório. Fica ali.

Tente traduzir este anúncio de metrô:

Senhor utente: se for descer na paragem tal,
dirija-se aos carros à frente do comboio


Pode traduzir. Mas já será outra língua. Ou ainda, este anúncio nos banheiros:

Antes de sair, carregue no autoclismo

Autoclismo é a descarga. Nos cafés, você não pede um café, mas uma bica. Mais surpreso você ainda ficará ao encontrar em uma ementa – isto é, cardápio – pratos como bifanas e safadinhas, pregos e sopa de grelos, febras de bacorinho ou punhetas de bacalhau.

E por aí vai. De que serve unificar a grafia, quando os idiomas já são dois? Quando falo em língua brasileira, nunca falta um fanático para me corrigir: língua portuguesa. Não é o que pensam os tradutores da Europa e dos Estados Unidos. Nos créditos de uma tradução, encontramos tradução do português. Ou do brasileiro. Já fui inclusive convidado para traduzir uma tradução do português ao brasileiro. Como a tarefa não me entusiasmou, recusei.

O acordo ortográfico é um embuste, cujo primeiro beneficiário foi Antonio Houaiss. Antes mesmo de o acordo ser assinado, seu dicionário já estava redigido segundo as novas normas. A indústria editorial brasileira logo percebeu as vantagens. Terá mercado cativo para as próximas décadas.

A eliminação de acentos só serve a analfabetos que não sabiam lidar com a língua. A eliminação do acento em pára, do verbo parar, torna confusas as manchetes. O saudoso Nestor de Hollanda dizia ser o acento diferencial fundamental para a compreensão do discurso. A virgem diz: ai. A viúva diz: aí.

Quando vejo escrito plateia, assembleia, Coreia, assim sem acento, minha tendência é pronunciar platêia, assemblêia, Corêia. Resumindo: a reforma revelou-se confusa, incoerente e só serve para dar lucros ao mundo editorial.

A universidade e os jornais foram covardes. Poderiam tranqüilamente recusar-se à proposta absurda. Os editores, é claro, jamais se recusariam. De minha parte, resisto. Continuo a escrever na boa e velha grafia e ninguém vai demover-me disto.

Jozé Joaqim Leão de Qorpo Santo, nos estertores do século XIX, em sua Ensiqlopedia ou seis mezes de uma enfermidade, fez uma proposta mais radical, coerente e sensata. Ocorre que, além de ser gaúcho, era tido como louco.

Houaiss fala uma linguagem que os editores entendem: lucro.



 Paulo Francis era crítico feroz de Houaiss:


"...tipo que nunca tomou posição real em coisa alguma, passando de uma vida galinha morta no Itamaraty à de compilador de enciclopédias e dicionários, a peso de ouro, porque fala difícil, o que passa por cultura no Brasil. Tudo pessoal, tudo vaidade."

"No Brasil me contaram que Antônio Houaiss disse em televisão que vai fazer um dicionário com 'Nós faz', 'Nós quer' e similares, porque é assim que o povo fala. Imaginem só, isso de um filólogo que, no dia-a-dia, em vez de discordo diz discrepo, em vez de familiarizado, diz tenho privância, e em vez de em baixo, sotoposto. Não é só demagogia. É autoritarismo mascarado de populismo. Não é sequer o velho marxismo que se propunha conscientizar o operariado, ilustrá-lo. Sintaxe e gramática certas são questões morais, como diria Eliot."

"A reforma nada acrescenta. É uma expressão precisa da aridez intelectual de Houaiss. Ele nunca será referido como Caldas Aulete ou Aurélio. É um mero compilador de enciclopédias, socialista de salão, que mostra o que pensa, em verdade, do povo, quando fala ou escreve, usando um vocabulário de paralelepípedos. Como é muito charmoso, foi poupado por muita gente, eu incluso. Não mais.

A única obra literária de Houaiss é a tradução de Ulysses, de James Joyce. Foi feita no tempo que eu trabalhava para a editora que lançou o livro, Civilização Brasileira. A piada em todas as bocas é que a tradução era mais difícil que o original. Nunca li. Mas olhei o final. É o célebre monólogo de Molly Bloom. Em orgasmo, Molly diz yes várias vezes. Como é que Houaiss traduziu? Com seu ouvido de lata, claro que traduziu para sim, literalmente correto, mas quem tem uma gota de sangue literário nas veias sabe que yes aí é o é do verbo ser. Sim é formal. O é, coloquial, adequado onomatopaicamente.

Houaiss diz que a ONU denominou português língua universal porque mais de 100 milhões de pessoas falam. É mesmo? Português não é uma das línguas oficiais da ONU, sequer. Línguas universais são inglês, francês e espanhol. É óbvio. E colocar Angola e Moçambique entre os usuários do português é outra piada. Os dialetos africanos, pouco a pouco, tornam a língua irreconhecível. Só nós e os portugas falamos português e qualquer semelhança é mera coincidência."

sábado, 25 de abril de 2015

‘O valioso tempo dos maduros’, Mário de Andrade

‘O valioso tempo dos maduros’



“Contei meus anos e descobri que terei
menos tempo para viver daqui
para a frente do que já vivi até agora.
Tenho muito mais passado do que futuro.

Sinto-me como aquele menino que
recebeu uma bacia de cerejas. As primeiras,
ele chupou displicente, mas percebendo
que faltam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam
egos inflamados. Inquieto-me com invejosos
tentando destruir quem eles admiram,
cobiçando seus lugares, talentos e sorte.

Já não tenho tempo para conversas intermináveis,
para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias
que nem fazem parte da minha.

Já não tenho tempo para administrar melindres
de pessoas, que apesar da idade cronológica,
são imaturos.

Detesto fazer acareação de desafetos
que brigaram pelo majestoso cargo de "secretário
geral do coral."

As pessoas não debatem conteúdos,
apenas os rótulos?

Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos,
quero a essência, minha alma tem pressa?

Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado
de gente humana, muito humana;
que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com
triunfos, não se considera eleita antes da hora,
não foge de sua mortalidade, caminhar perto de
coisas e pessoas de verdade,
O essencial faz a vida valer a pena.
E para mim, basta o essencial!”

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Napoleão e seu exército.

Relembrando o Prof. Marins

Assim Napoleão, o líder francês, classificava as pessoas, escolhendo-as para o seu famoso e forte exército:

1- Os inteligentes com iniciativa;
2. Os inteligentes sem iniciativa;
3. Os ignorantes sem iniciativa;
4. Os ignorantes com iniciativa.

Aos inteligentes com iniciativa, Napoleão dava as funções de comandantes gerais, estrategistas. Os inteligentes sem iniciativa ficavam como oficiais que recebiam ordens superiores e as cumpriam com diligência. Os ignorantes sem iniciativa eram colocados à frente da batalha - buchas de canhão, como dizemos. Os ignorantes com iniciativa, Napoleão não gostava e não queria em seus exércitos.

Esse "achado" de Napoleão serve também para qualquer lugar. Será que também não temos em nosso "exército napoleônico",  esses três tipos de "soldados"? E não serão todos necessários?

Pense bem. Um exército só de generais estrategistas por certo não vencerá batalha alguma. Alguém tem que estar no front. Obedientes oficiais sem estratégia também não vencem uma guerra. Soldados dedicados, sem comando, sem liderança, sem direcionamento, também não trazem sucesso. Portanto, precisamos dos três tipos de soldados para vencer uma batalha, assim como dos três tipos de colaboradores para que possamos vencer os desafios do dia a dia.

Um ignorante com iniciativa é capaz de fazer besteiras enormes. Um ignorante com iniciativa faz o que não deve, fala o que não deve e até ouve o que não deve. Um ignorante com iniciativa faz a sua empresa perder bons clientes, bons fornecedores. São os ignorantes com iniciativa que fazem produtos sem qualidade porque resolvem alterar processos definidos. Um ignorante com iniciativa é, portanto, um grande risco. Não precisamos dele.

Vamos trabalhar para sermos líderes inteligentes com iniciativa. O mundo está escasso deles.

O espectro do pecado e sua consciência

- atenção ao pecado, que ameaça a ruína do Castelo; 
- aprofundar no conhecimento próprio, para estar fundado em humildade; 
- dilatar o olhar e esquadrinhar dentro de si a vasta paisagem do Castelo interior. 



Texto de Santa Tereza; o Capítulo começa assim: “Antes de passar adiante, quero dizer-vos que considereis o que será ver este Castelo tão resplandecente e formoso, esta pérola oriental, esta árvore de vida que está plantada nas mesmas águas vivas da Vida, que é Deus, quando cai em pecado mortal. Não há trevas mais tenebrosas, nem coisa tão escura e negra que ela o não esteja muito mais.” (M I, 2,1) 

O místico tem olhos lúcidos para o mistério do mal. Uma mística tão otimista e clarividente como a Santa Madre tem uma visão sombria do pecado. Acompanha-a a sua consciência de pecadora: ela sabe-se e diz-se pecadora convertida. No mal do pecado ela sublinha o aspecto ético: a desordem que introduz no homem, na estrutura interior do Castelo. Mas mais que este aspecto ético, interessa-lhe destacar a dimensão teologal: no interior do Castelo, o pecado mortal frustra simplesmente a relação do homem com Deus, fica quebrado o projeto inicial de Deus para cada homem, que consistiu no radical chamamento do homem à comunhão com Ele. 

Na linguagem da Santa Madre é como se o homem se desabite a si mesmo, obrigado a abandonar o próprio Castelo num gesto de alienação, para viver fora ou no fosso, molestado por répteis venenosos. Pelo contrário, o pecado não consegue desalojar Deus do Castelo, que o continua a habitar, embora a pessoa esteja incapaz de participar da vida d’Ele. 

O homem em pecado é um castelo em ruínas, é um homem tenso pelo des-centramento e o desenraizamento, é um homem exteriorizado e derramado, escravo e não senhor. É vivido, não vive. ( Santa Tereza de Jesus)

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

HOMEM – LINCOLN CAMPOS VIEIRA

 
Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.
1 Coríntios 13:11
Decisão de crescimento espiritual é da ordem do livre arbítrio. Mesmo que o livre arbítrio não esteja totalmente a disposição do nosso raciocínio, ou melhor o nosso raciocínio não esteja na envergadura de entende-lo. Nem por isso ele deixa de existir assim como Deus.
Crescer é da lei natural, tudo cresce, evolui desde o material até o espiritual. Ainda que muitas coisas ainda não possam ser captadas pelos instrumentos materiais da ciência.
Crescer – crer ser – querer ser. Acreditar em si e agir na direção da realização das suas aspirações. Decidir se por alguma coisa requer que o individuo esteja TOTALMENTE disponível no presente para o que se propõe. Totalmente, significa em pensamento e ação.
Paulo diz “quando menino”, significando um estágio da vida humana. Mas no caso se trata de uma condição espiritual. Não há uma separação tão clara entre os termos espiritual e mental.
Hoje o que vemos são pessoas estendendo esse estágio de infância para além do similar biológico. Pais que se comportam como seus filhos. Filhos que exigem cada vez mais os direitos dos adultos. Pais imaturos e filhos “adultificados”.
Filhos que “pedem”, através do seu comportamento, limites aos seus pais. Pais que querem compensar agruras na própria criação e encastelados na culpa se tornam permissivos e fracos. Logo esses pais deixam de ser referencia para seus filhos, pois são tão ou mais dependentes que esses. Consultórios de especialistas, escolas, conselhos tutelares, Juízes de direito e policiais passam a ser solicitados até pelos pais que assumam a condição de referencia, lei e cuidado.
Quando deixaremos de ser meninos e seremos Homens? Quando reconhecermos o nosso Pai e nos mirarmos em seu exemplo, quando tivermos por referencia um Pai maior: o verdadeiro Homem. Mas para isso é preciso querer, deixar a indolência, medo e culpa e passar à ação. Decidir é não olhar pra trás com curiosidade ou insegurança.
Nenhum especialista, líder religioso, acadêmico ou autoridade por maior que seja seu conhecimento e poder é suficientemente entendido de mim para moldar o meu livre arbítrio.
Para pensar, sentir e discorrer como homem é necessário transitar por caminhos de dor sem se entregar a revolta ao medo e ao rancor.
Esse é o nosso destino, o mais é protelação.
POR LINCOLN CAMPOS VIEIRA