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quinta-feira, 22 de junho de 2017

Filho


Filho é bom, impulsiona, não me faz ficar parado;
me faz pensar e agir. Me faz suar e  rir. Me faz acordar
Me faz dormir para acordar e crescer. Me faz ensinar
 a ser professor e aluno,  explica sem explicar, o que é o Amor.
Quer tudo ao mesmo tempo, agora.
Filho me ensina a não querer morrer.

O Poema fala

Quem fala, fala, extrapola a fala
Atropela as palavras, já não sabe
O que de si saiu;  não cala porque se perdeu.
E quer se encontar mas já não sabe.
“Porque não te calas?” Porque é ‘permisso’
A alguns o direito de abrir a boca e falar
E ensinar o que não aprendeu.
Falar demais incita a ira, calar as vezes também.
O coração do homem é um cofre

Cujo segredo são palavras.

terça-feira, 20 de junho de 2017

Nome de santo....

Dos Santos, de Jesus, Santana, são centenas que são
criminosos inescrupulosos com nome nas páginas policiais. 
Não são apenas os Silva
que são apontados como nome simples
que estão respondendo a crimes hediondos.
De Marcos a Mateus, de Lucas a João, de José a Paulo.
Nomes e homens. Amigos ou não. Santos e pecadores.
A melhor forma de se conhecer que uma pessoa
não sabe ser amigo é como ele se comporta
com um pequeno sucesso de outro.
Se houver competição ou lá no fundo ,
bem no fundinho, detectar-se um fino amarguinho de mal estar
 está lá o sentimento terrível, inconfessável,
impeditivo de crescimento e com nome feio
que é chato até de escrever, veja! 
Quem sofre desse mal e o dedica a um pseudo amigo,
não tem amigo nenhum, simplesmente porque não sabe ser amigo.
Independente do nome. Amizade é, antes de tudo uma ciência. 
O amigo se doa, se coloca à ordem quando mais se precisa
e está do seu lado até quando menos se precisa.
Amigo sabe dar, sabe servir, sabe pensar primeiro no outro do que nele.
 De que adianta o seu filho ter nome de santo?

E quando...

E quando todas as esperanças se esvaírem,
quando nada mais houver no seu íntimo
que lhe dê uma mínima esperança de continuar a viver,
não adiantam palavras,
não adiantam abraços,
não adiantam apelos.
 Quando aquele sentimento amargo lhe subir de dentro para fora
lentamente, como uma mão, apertando
Não o deixe dentro!
Viva o suficiente para derrotá-lo.

(Olinto Campos Vieira)

Pessoa

Pessoa, Pessoa
Não criaste apenas nomes
Recebeste Pessoas
Uma só não bastava
Outras precisavam existir
Eu sei, somos todos nós
Adivinhaste , Pessoa!
Mais!  Leste algumas almas,
Recebeste o furor de uns, a mansidão de outros
Num só Pessoa, em mil se multiplicaram.
E sofreste, Poeta, as dores de todos.
Choraste minhas lágrimas, anteviste meu desterro
Eu não soube perceber.
Os poetas sofrem e você muito mais,
Por que não vivem as palavras
Vivem o sentimento, aflorado, latente
Não é apenas a palavra, é o que ela invoca
Traduziste, trabalhaste, gravaste e viveste.
“Poetas do mundo, reuní-vos”
Foste tu quem chamaste para si este legado
Não nos deixaste nada, estás aqui.
Porque em todo poeta há Deus
Adeus no poeta não existe
Por que eles são chegantes, apenas. Não partem
Não há poeta indo, abra um livro e veja
Veja sempre um poeta chegando.

(Olinto Campos Vieira)

A obra

 A obra

Trabalho e preguiça, preguiça e trabalho.

Preguiça é passar pelo mundo, fazendo.

Os mais preguiçosos são os que mais fazem;
A qualquer hora do dia e da noite, eles fazem.

Em momentos inimagináveis, fazem.

Um preguiçoso não se contém, produz o que mais povoa o mundo.

O preguiçoso é exaustivo quando encontra a fórmula estática que o impede de buscar algo produtivo. 

Eles fazem tudo por dinheiro, cobram caro pela obra.

A preguiça faz do gênio, um mero "fazedor".

Mas um homem de verdade sabe bem o que é o seu trabalho.   

 " E sem o seu trabalho, o homem não tem honra."

E chamo de homem quem vive a vida fazendo o bem.

Quando faz o mal, se sufoca, quase morre;
não se contenta enquanto não se redime;
Redenção consigo mesmo, pois o homem mesmo chora a dor.

Homem mesmo sabe quando errou.

Já os preguiçosos se sentem certos e são indiferentes a qualquer ideia que os faça pensar.

A sua obra surge do  grande volume de conhecimento que eles desprezam.

 Não param de trabalhar a obra tenebrosa e fétida, 
insignificante e de vida curta.

Trabalham até espumar os cantos da boca.
Trabalham até suar as têmporas.
Trabalham lendo bulas de remédio ou rótulos de desinfetante.

O habito de produzir já os consumiu e quando menos se espera, lá estão eles na labuta!

Com o cérebro solto, fazem duas, três, quatro vezes por dia, com facilidade. 

Gemendo ou silenciosos,
urrando de prazer, alívio e felicidade, olhando sempre para o chão.

O chão. Estão no chão, depositam tudo no chão.

E enquanto fazem, não pensam senão naquilo.

Concentrados, animados, vantajosos, soberbamente eufóricos com o tamanho do que fazem!

Orgulhosamente, olham a obra, gostam do que vêem e consigo ouvir o que  dizem, os preguiçosos: 

Eu fiz! Fiz! Sim, fiz! É meu! Só meu!

Somente aí, e mesmo assim com apêgo,  libertam a obra que, rodopiando no redemoinho aquático , escorregam, dançando e viajando  cano baixo.

E logo então, saem por ai a produzir mais.
Empoderam mentes sem temperança de súditos em transe, mais preguiçosos ainda.

Na realidade, ali nao há líderes.

 Todos são prisioneiros de uma inteligência rançosa.

formam legiões, fazem guerras,
estão destinados a história de pequenos mundos transitórios.

Cantarolam sem parar musicas sem sentido com palavras de efeito menor.

Eles não se cansam de esperar a próxima tragédia, particular ou pública, pois já são acostumados ao caos interno. 

Paz de cemitério, cegos no dicionário, elefantes no relicário.

Procurando escândalos  no depósito de lixo, confundem pesadelo com realidade e alardeiam sobre si mesmos, histórias que nunca viveram,
livros que nunca leram, filmes que nunca viram.

Dormem sempre cedo e sonham com o cotidiano tedioso da ignorância.

Vivem do aluguel irrisório  de seus inquilinos perpétuos; se especializaram em  hospedagem parasitária e os trata magnificamente bem . Se sentem até devedores.

 Homem de verdade não precisa buscar
na memoria a verdade que viveu. Ela esta lá.

Assim não precisa repetir mentalmente quem ele é como o preguiçoso suado que tenta decorar a historia que conta, 
no interesse de manter a mentira como verdade.

o homem de verdade versa sobre si na prática do bem;

o preguiçoso versa sobre a prática do bem do outro, querendo traduzí-la para o mal, ignorantemente. 

Ele e sua obra são iguais, e até mesmo aprecia o bafio que exala e permanece.

Alavancas de um mundo obtuso, os preguiçosos são atuantes na lida retardatária e depositam suas esperanças no fundo do abismo,  querendo nos obrigar a buscá-las. 

Que  desçam cada um e tomem posse delas. Nada meu há ali, além de um pedido de socorro para eles:

Piedade,  piedade, piedade! 

(Olinto e Lincoln Campos Vieira)


Tigresa

Tigresa, você tem os olhos sinceros
Só se engana quem quiser, ou for tolo.
Mas eu te acho "tetéia", para usar um termo "sukita", bem anos 70
E doce com o coração, despejando amor e bem querer
Uma fera que calma anda lentamente, quase em câmera lenta
A observar os mínimos movimentos ao seu redor
Movimenta só com os olhares soltando informações
E as pessoas tem medo da tetéia com massa encefálica
Estranham o que há dentro daquela cabeça
Pois os olhos só vêem o corpaço e a beleza
Ah tetéia, você pode não acreditar no que quiser
Desde que acredite em mim e em quem te gosta
Recusa-se a ver Dorian Gray imaculado de cinza
Prefere sempre o original, deturpado de Wilde.
Wild, Take a walk on the wild side
Isso você ja faz ha tempos
Desafia a zona de conforto e se sobrepõe ao que era antes
Se refaz de qualquer dor e permanece atual
Uma fera que ruge 
Mas sintoque só quer dormir com uma canção de ninar

Ah, eu sei lá o que eu penso disso...


E há quem conceitue poemas, como se conceitue bolos ou balas
Ou whiskies ou um bife no ponto com vinho adequado, isso é certo, Ariano? É pobre construir rimas? Um poema não deve ter rimas, fica é menor por isso?
Desde que descobriram que amor rima com dor é essa lenga lenga. Vai Machadão, você que começou com essa história toda, é responsabilidade sua, não queira sair de fininho, olhando de soslaio, como os olhos de Capitu. Prosa ou verso? Responda:
”- Pudesse eu copiar o transparente lume,
que, da grega coluna á gótica janela,
contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela !
Mas a lua, fitando o sol, com azedume:”
Eu mesmo não faço soberba nenhuma dos dois, diz Machado.
Quisera todos os ditos poetas ter o talento de rimar,
Em prosa, então, é uma magistralitude. Ah, que pena, eu desobedeci as novas regras ortográficas e criei uma palavra? E o que eu ando obedecendo, vale a pena? Machado você ficaria de fora hoje, do grande banquete dos suntuosos escritores.
Tão antiquado, fora de moda, seria no máximo auxiliar de Gilberto Braga ou Aguinaldo Silva disputando quem faria um beijo gay em uma novela.
Ou um escritor, tantos, que vivem a mercê da caridade Ranouet.
Já pensou Machado, uma Academia por ti criada e frequentada pelo que há de mais vil?Permita-me rimar, leitor; ele se não fosse, rezaria para ser senil,
Que sentiria ao ver sua elite de escritores frequentada por bisonhos marimbondos de fogo?
Vamos colocar frente a frente, Roberto Marinho e Olavo Bilac. Há diferença? Um construiu um império, foi Imperador e outro é o Roberto Marinho da Globo. Só. O império de Bilac é maior que o Projac ao cubo,
Ou já é uma normal colocar empresários e políticos na Academia Brasileira de Letras.
Ariano Suassuna deve ter dado boas gargalhadas por dentro.
Eu fosse Marco, me sentaria no chão,
Fazendo companhia a outros, quando se reunissem.
Afinal Castro Alves é patrono da Casa.
E o que é que tem Maciel sentar-se no chão? Como um sofrível aprendiz.
Ariano deitou-se quantas vezes no chão de aeroportos e fez companhia a ti?
Imagine Drummond vivo, sucedendo a cadeira do falecido Marco Maciel.
Ou o mesmo fazendo Clarice Lispector, Mario Quintana, Graciliano Ramos, Paulo Lemminsky. Nenhum foi acadêmico e Marco é Imortal.
Castro Alves não deixaria Sarney na senzala, nem FHC, nem Pitanguy.
Senzala é lugar nobre. Casa Grande também (depende da casa).
Alvares de Azevedo, há quem conceitue seus poemas, sabia?
Há quem critique rimas, coisa fora de moda.
Mas Tom Zé inacadêmico e desobediente mandaria quem conceitua “ ir tomar no verbo, seu filho da letra”, Como Jorge mautner grita:
" De Camões a Fernando Pessoa
Nos somos resultado
Dessa peregrinação longíngua
De combates e de glórias
De afirmação do bem contra o mal,
E mesmo na era cibernética,
No mundo digital, no holograma
Ali está Jorge
Triunfante lá na frente de todos nós,
É a pipoca da pororoca da imaginação"
Ah, deixa eu ir alí....

O Tempo e as pessoas

Qual é o tempo suficiente para que uma pessoa transforme a sua vida, recomponha pensamentos, transforme sentimentos, minimize tempestades, amadureça, saiba se relacionar melhor com as pessoas?  dois, três anos? Dez. Essa é a meta. Transformação. Mesmo que os erros que ela cometa mostrem para quem está de fora que ela parece ser a mesma pessoa.
Esse é o ato de paralisação mental de terceiros, subestimar a capacidade de crescimento das pessoas diante do que ela vê superficialmente. Ou do que não vê. Você dorme com bons propósitos de melhoramento no dia seguinte e no outro. Mesmo que você tropece, aquela força de vontade permanece e isso é o que vale. Faz quantas vezes puder até acertar-se consigo mesmo.
Errou? Aprenda com o erro, mas isso não impede de errar o mesmo erro. Até não errar mais. Não é a vida que ensina, nós é que aprendemos, na marra, com o joelho ralado, coração disparado, com medo. Um perdão, uma palavra, uma atitude negativa que definitivamente não será mais repetida. Aquela pessoa eu conheço, sei o ponto fraco dela. É o pensamento principal de quem está parado no mesmo lugar e o mundo girando.
Parar de trabalhar incessantemente em busca de juntar dinheiro ou distribuir vaidades. Se puder, escolher aquilo que alcance melhor potencial, com gosto. Se for possível, não fazer nada, com a mente fervilhando em ideias criativas e no tempo possível, concretizá-las. Quem te viu há tempos atrás tem um conceito sobre você mas não sabe o que lhe aconteceu nas duas últimas décadas.
Você mudou, cresceu, aprendeu a ser um pouco mais forte, ter um pouco mais de liderança, um tanto mais de sabedoria, conhecimento, rugas, dores e, para quem sabe ver, beleza. Sabe que envelhecer dessa forma é bonito. Não estranha rugas nem fica obcecado por elas. Aprendeu a conviver mais com as dores que sofreu e por isso valoriza dez minutos de descanso. Sabe que não precisa colocar os olhos mais nas pessoas e sim em você mesmo.
Sabe que não precisa ter um depósito de dinheiro como tinha o Tio Patinhas e que a “moeda número um” é o seu coração. Tem consciência de que a sorte é fruto de atos antes praticados, de trabalho. Sabe o que é realmente o trabalho. As vezes dez minutos de travesseiro representa um trabalho extenuante, cansativo e produtivo. Sabe que as lágrimas são salgadas pois já sentiu o gosto delas várias vezes e decidiu sentir cada vez menos.
Preocupa-se menos com as dietas, com as neuroses fantasiosas de homens que existem para encher a caverna de Alí-babá de jóias com fórmulas mágicas para comer e não comer. A partir de um momento você não precisa ser mais iludido com as coisas inúteis da vida e se empenha em fazer o que é para ser feito. “Fazer a parte que te cabe neste latifúndio”.
Amar, abraçar, sorrir, ouvir uma música, dormir leve, trabalhar em um clima amistoso já é mais importante do que receber aquele dinheiro que o credor não quer ou não pode pagar. Não poder pagar já não se torna tão avassalador quando você já construiu um nome com credibilidade pois problemas e dificuldades todos passamos e as pessoas confiam em você e sabe que pagará. Não, você não é mais o mesmo, mesmo que pensem. Ninguém é mais o mesmo, até o mais acomodado dos seres. Se for, que mude, por ele.  Então, que vivamos a nossa vida e possamos ver um pouco além das aparências. ( Olinto Campos Vieira)

sábado, 10 de junho de 2017

Tudo igual no placar diferente


  •  Intelectuais  contemporâneos  

  •       Eu não tenho o mesmo vigor como tem o Gilmar, quando ri ironicamente dos que considera incapazes e se inclina , olhando para o alto de olhos esbugalhados e boca esparrachada: rarará! De onde vem a força daquele moço? Será que vaidade fortalece fisicamente? Parece que sim. Tantas perdas em tão pouco tempo, Belchior, Jerry, Wilker puxa vida! Sei que é preciso ser "macho" para permanecer homem nas salas de tapetes felpudos e cadeiras fofas de um lugar chamado erroneamente de "suprema corte". E não se esquecer, diante de tanto luxo, que está no Brasil, onde ainda se come lagartixas e milhares dormem pelas ruas.  Saber realmente onde a pessoa se encontra atrás das aparências e deferências  é tarefa para grandes que ainda tenho esperança que existam. Mas como existem Gilmar, Celso, Marcorélio, Levando! E os ratos mais magros, catititinhas, ratos domésticos como..., você sabe!! Mas nem tudo está perdido. E não estará. Nem os enganados que fingem que já sabiam de tudo e na realidade , falam o que julgavam ser a desculpa esfarrapada: "eu não sabia de nada!". Ah, é sim! Tá certo. Ou nao!

quarta-feira, 7 de junho de 2017

Aprendendo a ser melhor com o Tempo

Por mais que o tempo passe e nos dê sustos quando olhamos fotos antigas e filhos de filhos de amigos de infância, nada disso me deixa sensação de " velhice" . Me sinto cada vez mais jovem e cada vez melhor que ontem. Paralelamente, me entristeço com pessoas do meu convívio que, amargas, não souberam extrair o melhor do tempo; não souberam procurar se melhorar e tentam  resvalar com o seu rancor o brilho alheio " O melhor o tempo esconde", basta procurar. Chegar em um ponto da vida com conteúdo, amigos, produtivo e com a sensação de que "menos é mais", de que é preferível ouvir uma boa música do que discutir o sexo dos anjos é muito melhor do que ter saudade dos cabelos ou do corpo atlético. Cabeçadas na vida em qualquer idade não estamos livres, e graças a Deus existem os erros para continuarmos aprendendo a nos sentirmos melhores ao superá-los. Não vivo de nostalgia. O melhor lugar do mundo é aqui é agora, como já disse Gilberto Gil. ( Olinto Vieira 07/06/17 , 22:27)

segunda-feira, 5 de junho de 2017

curso normal

Quanto mais o tempo passa, as coisas vão seguindo o seu curso normal, dia após dia. E mesmo assim, os dias sendo diferentemente iguais, temos surpresas; umas boas, umas nem tanto. Convivemos desde cedo com as marcas vermelhas das bordoadas da vida. A maioria de nós, em seus momentos de maior desespero, como se estivéssemos presos no tronco, qual escravos, sem gemidos, cansados e resignados até com o peso do chicote e seus duros golpes. Anestesia. Em momentos de maior desespero, brasileiro se iguala a suíço, cada qual com sua dor particular que só cada um sabe a intensidade. Peso igual é o da alegria, do sentimento de felicidade por algo tão desejado, que é solenemente ignorado pela maioria dos viventes. Aquela vontade de abraçar o mundo permanece, mas o mundo nem se move com nossa alegria.  Natural; cada um com seu cada qual. E o rio vai passando, todos os dias, no mesmo caminho, alguns calmos, outros mais corridos; alguns dias fazem sol, outros a chuva balança os galhos da árvore e enquanto isso, em uma janela, lágrimas caem e sorrisos se iluminam. Por muitas vezes, as tristezas e as alegrias são no mesmo momento na vida de pessoas diferentes. Um raio cai sim, no mesmo lugar duas, três vezes seguidas. Só nós sabemos disso; não existe famoso ou endinheirado, anônimo ou pobretão que não seja necessitado e carente. Vivemos em um mundo de pedintes; todos pedimos, seja para quem for, seja o que for, demonstramos sem pudor nossa condição humana em algum momento na vida. 

segunda-feira, 17 de abril de 2017

Aos que virão

Como sei pouco, e sou pouco,
faço o pouco que me cabe
me dando inteiro.
Sabendo que não vou ver
o homem que quero ser.

Já sofri o suficiente
para não enganar a ninguém:
principalmente aos que sofrem
na própria vida, a garra
da opressão, e nem sabem.

Não tenho o sol escondido
no meu bolso de palavras.
Sou simplesmente um homem
para quem já a primeira
e desolada pessoa
do singular - foi deixando,
devagar, sofridamente
de ser, para transformar-se
- muito mais sofridamente - 
na primeira e profunda pessoa
do plural.

Não importa que doa: é tempo
de avançar de mão dada
com quem vai no mesmo rumo,
mesmo que longe ainda esteja
de aprender a conjugar
o verbo amar.

É tempo sobretudo
de deixar de ser apenas
a solitária vanguarda
de nós mesmos.
Se trata de ir ao encontro.
(Dura no peito, arde a límpida
verdade dos nossos erros.)
Se trata de abrir o rumo.

Os que virão, serão povo,
e saber serão, lutando.

Thiago de Mello