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sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Poema é terno

Um poeta fabricado à força, se conhece logo. É exageradamente doce e escancaradamente falso.

 Sonha, antes de escrever, com a noite de autógrafos do livro publicado.

 Escreve rimas com dor e procura palavras sem amor, fazendo sangrar o lirismo.

Rima com rima, sem sentimento de ser passageiro e eterno e sim momentâneo, conjuntural e raso.

 Poema nao precisa ser entendido, exato, linear e chato.

 Poema é a organização da desordem do sentido mais puro e humano, como uma criança em uma fábrica de cores.

 Um poeta fabricado procura o exato na poesia e nos louvores de serenata.

 E espera ser decifrado o que nao precisa fazer sentido.

Ou o que faz sentido apenas com o coraçao e olhos marejados.

Descreve o que nao entende com a sensibilidade de um bêbado abstêmio ( eles existem!), que não sigo.

Faz que conhece o mundo que habita no seu própio umbigo. Tem no umbigo o seu calabouço"

( OCV)

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

NÃO ESTÁ SENDO FÁCIL

-Eu não estou vendo isso, Ray. Diga que não estou vendo. Preciso ouvir de você! ( Stevie Wonder)

- É verdade sim, Stevie. Posso afirmar com toda certeza; eu e o Jose Feliciano também sentimos isso. (Ray Charles)

- É muita falta de visão! Cegueira completa, amigos. ( Jose Feliciano)

-Temos que ver tudo isso com os olhos do coração, para entender esse astigmatismo gigantesto e contagioso. ( Andrea Bocceli)

-De todos nós, eu posso dizer algo com conhecimento de causa:  Não está sendo fácil, não esta sendo fácil viver assim.( Kátia)

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Fissura

-  Então você continua com os mesmos sintomas, a mesma agitaçao de antes?

- Sim, doutor !  Não sei mais o que fazer.  É um tormento! Eu penso só sobre aquele assunto o dia inteiro. No trabalho eu não consigo me concentrar, o pensamento fica desfocado. Ontem eu até esqueci o nome dos meus filhos.

- Preocupante. E os medicamentos que eu te passei?

-Não resolve. Remédio não resolve.  Vou aumentando a dosagem e não sinto nada. Talvez um ansiolítico mais potente, um sossega leão?!

- Vamos ver. Pelo menos parou de discutir nas redes sociais?

 -Dr, quando deixo as redes sociais, começo a brigar na rua. Outro dia no trânsito eu sai do carro e procurei briga com um homem porque vi um adesivo no carro dele! Quase levei um tiro!

- Isso é grave.  Melhor voltar para as redes sociais então. 

- Dr, não sei mais o que fazer. Minha mulher já esta com medo de dormir comigo, por causa do sono agitado. Grito o nome do adversário,  ofendo seus simpatizantes,  é uma tortura!

-Escute, Antônio, você precisa entender que o fanatismo esta te dominando. Você não fala de outro assunto, esta ficando chatíssimo. Entrei em sua página; todas as postagens são sobre o mesmo assunto!

- Eu sei dr, agora eu percebo isso. Preciso me curar. Quem sabe algum remédio mais forte?

- Esquece!  Não irei passar mais remédios. Vou recomendar uma clínica de repouso até você controlar essa sua fissura por futebol.

A OBRA

Trabalho e preguiça, preguiça e trabalho.

Preguiça é passar pelo mundo, fazendo.

Os mais preguiçosos são os que mais fazem;
A qualquer hora do dia e da noite, eles fazem.

Em momentos inimagináveis, fazem.

Um preguiçoso não se contém, produz o que mais povoa o mundo.

O preguiçoso é exaustivo quando encontra a fórmula estática que o impede de buscar algo produtivo.

Eles fazem tudo por dinheiro, cobram caro pela obra.

A preguiça faz do gênio, um mero "fazedor".

Mas um homem de verdade sabe bem o que é o seu trabalho. 

 " E sem o seu trabalho, o homem não tem honra."

E chamo de homem quem vive a vida fazendo o bem.

Quando faz o mal, se sufoca, quase morre;
não se contenta enquanto não se redime;
Redenção consigo mesmo, pois o homem mesmo chora a dor.

Homem mesmo sabe quando errou.

Já os preguiçosos se sentem certos e são indiferentes a qualquer ideia que os faça pensar.

A sua obra surge do  grande volume de conhecimento que eles desprezam.

 Não param de trabalhar a obra tenebrosa e fétida,
insignificante e de vida curta.

Trabalham até espumar os cantos da boca.
Trabalham até suar as têmporas.
Trabalham lendo bulas de remédio ou rótulos de desinfetante.

O habito de produzir já os consumiu e quando menos se espera, lá estão eles na labuta!

Com o cérebro solto, fazem duas, três, quatro vezes por dia, com facilidade.

Gemendo ou silenciosos,
urrando de prazer, alívio e felicidade, olhando sempre para o chão.

O chão. Estão no chão, depositam tudo no chão.

E enquanto fazem, não pensam senão naquilo.

Concentrados, animados, vantajosos, soberbamente eufóricos com o tamanho do que fazem!

Orgulhosamente, olham a obra, gostam do que vêem e consigo ouvir o que  dizem, os preguiçosos:

Eu fiz! Fiz! Sim, fiz! É meu! Só meu!

Somente aí, e mesmo assim com apêgo,  libertam a obra que, rodopiando no redemoinho aquático , escorrega, dançando e viajando  cano baixo.

E logo então, saem por ai a produzir mais.
Empoderam mentes sem temperança de súditos em transe, mais preguiçosos ainda.

Na realidade, ali nao há líderes.

 Todos são prisioneiros de uma inteligência rançosa.

formam legiões, fazem guerras,
estão destinados a história de pequenos mundos transitórios.

Cantarolam sem parar musicas sem sentido com palavras de efeito menor.

Eles não se cansam de esperar a próxima tragédia, particular ou pública, pois já são acostumados ao caos interno.

Paz de cemitério, cegos no dicionário, elefantes no relicário.

Procurando escândalos  no depósito de lixo, confundem pesadelo com realidade e alardeiam sobre si mesmos, histórias que nunca viveram,
livros que nunca leram, filmes que nunca viram.

Dormem sempre cedo e sonham com o cotidiano tedioso da ignorância.

Vivem do aluguel irrisório  de seus inquilinos perpétuos; se especializaram em  hospedagem parasitária e os trata magnificamente bem . Se sentem até devedores.

 Homem de verdade não precisa buscar
na memoria a verdade que viveu. Ela esta lá.

Assim não precisa repetir mentalmente quem ele é como o preguiçoso suado que tenta decorar a historia que conta,
no interesse de manter a mentira como verdade.

o homem de verdade versa sobre si na prática do bem;

o preguiçoso versa sobre a prática do bem do outro, querendo traduzí-la para o mal, ignorantemente.

Ele e sua obra são iguais, e até mesmo aprecia o bafio que exala e permanece.

Alavancas de um mundo obtuso, os preguiçosos são atuantes na lida retardatária e depositam suas esperanças no fundo do abismo,  querendo nos obrigar a buscá-las.

Que  desçam cada um e tomem posse delas. Nada meu há ali, além de um pedido de socorro para eles:

Piedade,  piedade, piedade!

(Olinto e Lincoln Campos Vieira)

domingo, 14 de outubro de 2018

O figo que não amadurece

Carregava em mim,  até pouco tempo, histórias recentes que não queria lembrar. Mas se estavam  em mim, invariavelmente  vinham à tona, e a memória me calava  o peito, que em um movimento sincronizado, enchia meus olhos , invadia meu rosto, escorria em mim. Uma pequena convulsão solitária de momentos que não desejava  lembrar, que não queria ter vivido. Porém, por mais que relutasse,  como um visgo teimoso, estavam lá, em um pequeno baú da memória, instantes de noites inteiras, dias inteiros de suspense e medo de algo acontecer.  Indagaçoes confusas que nunca encontraram eco, perguntas sem resposta, " por que isso agora, nesse momento?" "Por que eu conquistei para perder?". "Por que , por que?" E eu, desde menino, solitário e de poucas palavras, que aprendeu a trabalhar minha própria companhia e sentimento, com o olhar no horizonte,  muitas vezes sem esperança nem tristeza por isso. Apenas com uma conformaçao descabida de não visualizar ou não me achar ou não me sentir merecedor de muita coisa. Um menino que se transformou em homem cedo demais. Um pequeno escritor de poemas do fundo da alma. Um pequeno desenhista sonhador .Um escritor de poemas rasgados, centenas deles.  Um leitor de acontecinentos que não tinha certeza da vivência.  Uma ansiedade  na alma de que uma vida é pouco demais. Um observador das pessoas,  do próprio coração,  que sem explicação sempre foi acelerado.  Traduzi meu caminhar,  e em alguns momentos me doeu os passos pausados, lentos, indecisos. Era o medo, que agigantei um dia, de nada fazer sentido. Um receio de meu nome transferir para minha vida o seu significado real,  um figo que não amadureceu. Recebi, e pensei ser tardiamente, deveres que pensei não ser para mim. Porém, nada foi tardio. Foi o tempo certo para eu saber receber, dar e ficar de alguma forma na vida de alguem. Eu precisava ficar, não do verbo estacionar, mas de permanecer e continuar caminhando, cumprindo a cada dia,  aquilo que nunca imaginei ter força. Precisei da lembrança dos momentos de solidão para saber lidar com ela. E naquela noite em que foi arrancado de mim o que de mais rico consegui erguer, o que jamais pensei em ter, o que de mais sagrado uma árvore tem,  chorei lágrimas de fogo, como lava de um vulcão feroz, de lava incandescente e lenta. O menino se fez fera por um tempo. Ninguem estava lá. Ninguem viu.  Eu morri varias noites mas ressuscitei todas as manhãs,  com olhos abertos, como se tivesse andado em um deserto por horas.  Não acreditei que tivesse mais olinto para ver o tempo passar. Travei longas batalhas com o relógio, vendo fotografias de parte de mim que foi arrancada. Das presenças diárias, poucas ficaram. Mas as que ficaram,  ficaram! De tudo o que aconteceu, o momento de abraçar e despedir era o que mais doía.  Os olhos inocentes e confusos não me viraram as costas jamais e, mesmo de longe,   cobriam toda a devastaçao que foi feita de mim. Os olhares de reprovaçao, a exposição constante, intermitente, julgamentos de quem não sabia nem um pouco de mim, não doeram tanto quanto eu pensei.  Só me fortaleceu e fez com  que eu não quisesse mais calçar o mesmo sapato. Não mais! Fez com que eu buscasse uma parte liberta de mim. Uma criança que não fui, nasceu  em toda essa metamorfose. Sem a preocupação exagerada de ser contido. Sem nenhuma pretensão de seriedade mórbida; sem a preocupaçao de querer agradar ou medo de ser ridículo.  Com isso, recuperando o tesouro,  me vi pleno, leve. Sei entretanto que tudo ainda vive em mim. As lembranças ainda vem em flashes, em "sonhos", lembranças de momentos que ainda me atemorizam estar no lugar de vivenciar novamente. Grato, ja deu! Foi precioso  mas não quero mais. A paz  reconciliada me faz bem. Noites presentes me fazem crer que tudo foi para isso. Os outros  que confiaram em mim sem que eu mesmo confiasse, me são caros e eternos; não são outros, fazem parte de mim e sabem disso. Os outros que feriram sem conhecer, sim, são outros e sendo motivadores do meu crescer,  os tenho em lugar limpo, mas com a graça bendita do esquecimento gradual . A eles dedico a paz que tenho, pois é indivisível. Algumas mesmas conquistas ja não me satisfazem. Que fiquem para quando Deus quiser. Por enquanto  , um homem vem se fazendo cada vez mais criança, cada vez menos pedante, menos importante e mais feliz. E hoje  sinto a felicidade que pensei não merecer. ( Olinto Campos Vieira, 13/10/2018, 23:55)

terça-feira, 9 de outubro de 2018

Eu, por mim mesmo.

Me posiciono na independência de não precisar me posicionar a nada. Me posiciono na independência de falar ou não falar, escrever ou não escrever, dar opinião ou me calar, ouvir e dar de ombros, ouvir e dar a atenção se eu quiser, que eu quiser,  responder se achar que devo ou ignorar. Me posiciono dentro da minha independência construída nesse meio século de vida que tenho, com o direito que me assiste de  me fazer entender como e quando eu quiser, de entender como certo apenas o que passa pelo meu crivo, de não fazer exposição de meu crivo, de não me interessar pelo crivo de ninguém se eu assim entender; de não me medir pela régua de ninguém, de seguir quem eu achar que devo, de andar só,  de discordar e ficar só para mim, de sentir medo e entrar para o quarto, de não sentir medo, de não ligar para a inteligência de ninguém se eu não reconhecê-la, de não propalar isso, de não ter receio de rótulos, de não rotular, de não ter preconceito, de ter conceito, de sair, ir, voltar, ir de novo, voltar de novo, avançar, parar, aceitar o café, fingir que está bom ou não aceitar o café. Me posiciono com a independência e liberdade de rir , ficar sério, responder ou não se alguém me cobra ou se decepciona por algum posicionamento meu ou por meu silêncio.  Me posiciono com a extrema leveza de não levar em consideração se a minha reação surpreendeu alguém que não me conhece ou conhece. Me posiciono da maneira que eu quiser ou não quiser. Quando nasci me deram um nome e é ele que eu uso para construir minha identidade única, original, minha e de mais ninguém. ( Olinto Campos Vieira)

COLUNA DO OLINTO - O FANÁTICO

Hoje eu resolvi, não sei porque, falar a respeito do fanatismo. Esse monstro de todas as eras é facilmente reconhecido  na sua vítima pois o dominado não consegue ter raciocínio lógico. No afã de esgotar sua sanha fanática que o faz limitar drasticamente sua inteligência , saltita daqui para alí, ultrapassando todas as faixas amarelas do bom senso. Fanático não tem personalidade; vive inautêntico, aceita meias verdades  com a convicção de um faminto frente um prato feito. Independe de classe social ou motivação; o fanático tenta suprir uma carência inconfessável, um desejo reprimido, uma falta de aceitaçao de si mesmo. O fanático depende sempre do outro. É necessária a existência de platéia para que  o fanático se sinta estimulado a desenvolver seus queixumes,  agressividade, intromissão na vida e espaço alheio. O fanático não consegue viver somente no seu território e anseia, ou mesmo necessita  do jugo de um buçal. Não sendo dono dos próprios atos ( embora pareça sê-lo), são geralmente reprimidos,  pregando uma moral que não vivem, exigindo uma adesão imediata ao que consideram certo, sob pena de constrangimentos públicos e até mesmo agressões por palavras e vias de fato. Ele se ofende fácil e se reconhece mais fácil ainda. Os olhos parecem parados, vidrados, como se estivessem em transe, mirando um ponto fixo no espaço, com uma tendência a somente falar e não ouvir. Se dá espaço para o interlocutor falar, não ouve; já elabora a continuaçao do que estava falando.  As palavras tem um ritmo acelerado, em uma só entonação, geralmente um tom mais alto e, em decorrência da falta de pausa,  não é raro descer um fio de baba pelo canto esquerdo ou direito da boca, conforme a pessoa.  Sobrevive de frases de efeito, chavões genéricos e não tem noção, pela mente atormentada, do grau das feridas que provoca. Não faz por mal, é uma anomalia.O fanático vive em um universo paralelo all the time.   Ainda bem que não existem fanáticos aqui na minha time-line e eu, logicamente, não os procuro, pela nocividade que eles representam. Estou definindo para uma precaução dos amigos pois, afinal de contas,  devemos nos precaver nesse mundo cheio de fanáticos por futebol ( ou qualquer outro assunto  pois o que menos importa oara o fanático é o assunto).