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quinta-feira, 23 de abril de 2009

Exemplo nada bom...

Oito dos 11 ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) divulgaram uma nota na noite de ontem, 22, em apoio ao presidente da Corte, Gilmar Mendes. A nota veio após a discussão entre Mendes e o ministro Joaquim Barbosa. A decisão de redigir o texto foi tomada depois do encerramento da sessão em que ocorreu o bate-boca. Os ministros se reuniram no gabinete de Gilmar Mendes, no momento em que Joaquim Barbosa (foto abaixo) estava ausente.




A nota lamenta o episódio e reitera o respeito ao presidente da Corte, Gilmar Mendes.


"Os ministros do STF que subscrevem esta nota, reunidos após a Sessão Plenária de 22 de abril de 2009, reafirmam a confiança e o respeito ao Senhor Ministro Gilmar Mendes na sua atuação institucional como presidente do Supremo, lamentando o episódio ocorrido nesta data",




Diz a íntegra da nota, que é assinada pelos ministros Celso de Mello, Marco Aurélio Mello, Cezar Peluso, Carlos Ayres Britto, Eros Grau, Ricardo Lewandowski, Carmen Lúcia e Menezes Direito. Não assinaram a nota somente os envolvidos na polêmica, Gilmar Mendes ( foto acima) e Joaquim Barbosa, além de Ellen Gracie, que está fora do Brasil.


O bate-boca começou quando o STF analisava recursos em que era discutido se decisões sobre benefícios da Previdência do Paraná e sobre foro privilegiado tinham ou não efeito retroativo. Essas decisões haviam sido tomadas em sessões em que Barbosa faltou aos julgamentos - ele estava de licença. O ministro Barbosa disse que a tese de Mendes deveria ter sido exposta "em pratos limpos". Mendes respondeu: "Ela foi exposta em pratos limpos. Eu não sonego informações. Vossa Excelência me respeite", e lembrou que o ministro faltara à sessão em que o recurso começou a ser decidido.



Quando Mendes disse que o ministro não tinha "condições de dar lição a ninguém", Barbosa partiu para o ataque ao presidente do STF. "Vossa Excelência está destruindo a Justiça deste País e vem agora dar lição de moral em mim? Saia à rua, ministro Gilmar. Saia à rua, faz o que eu faço", afirmou Barbosa. Em seguida, depois de Mendes dizer que estava na rua, Barbosa acrescentou: "Vossa Excelência não está na rua não. Vossa Excelência está na mídia, destruindo a credibilidade do Judiciário brasileiro."


Outro ministro, Carlos Ayres Britto, tentou acalmar os ânimos. "Ministro Joaquim, vamos ponderar." Mas de nada adiantou. "Vossa Excelência, quando se dirige a mim, não está falando com os seus capangas do Mato Grosso, ministro Gilmar. Respeite", reagiu Barbosa. O presidente do STF nasceu em Diamantino, cidade do Estado de Mato Grosso. ( Agência Estado)

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Rui e Lincoln




Conta-nos Rubem Nogueira, no raro livro "O Advogado Rui Barbosa", que aos quinze anos de idade o moço já estava preparado para ingressar na Faculdade de Direito de Recife, no entanto, a legislação da época só permitia a entrada na universidade a partir dos dezesseis anos completos.


Alguém próximo à família cogitou em falsificar o documento do jovem para que ele não perdesse um ano sem estudar.


Ao saber disso o pai de Rui o chamou reservadamente e assim lhe aconselhou:


"Meu filho, não hás de começar a vida por uma falsidade".


E Rui respondeu: "Sim senhor, meu pai".


E assim Rui Barbosa foi forjado.


Honestidade na advocacia.
Honestidade na política.
Honestidade no jornalismo.


Foi a base de sua autoridade.
Um exemplo a inspirar a civilização brasileira.
Merece um quadro a enfeitar nossas paredes.
As paredes da nossa consciência.




Hélio Sodré, no livro História da Eloqüência Universal, nos conta que Abrãao Lincoln foi um dos grandes oradores da humanidade. Tinha um estilo formoso e simples de falar.



Sabia expor com clareza as mais complexas idéias.
O tom da fala era quase bíblico, profético, burilado com refinada emoção.
Era conciso, objetivo e simples, repita-se.
E honesto no que dizia e fazia.





Dirigia-se não somente à razão, mas à sensibilidade dos seus ouvintes.
Podemos dizer que Lincoln foi um dos geniais respresentantes de uma nova maneira de falar: a oratória natural e serena.
Como advogado, no tribunal do júri, expunha suas razões compassadamente, construindo cada argumento, como um admirável artista da palavra. Era tranquilo, mas enérgico quando precisava.





Osho nos narra uma passagem na vida de Abrãao Lincoln que bem nos mostra a lição que devemos tirar de sua eloquência. Quando Lincoln chegou à presidência dos Estados Unidos muitos ricos procuravam humilhá-lo por ser ele de origem pobre. Antes de iniciar seu discurso no Senado, como presidente, um homem, muito arrogante e burguês, adiantou-se antes que Lincoln começasse a falar e disse: "Lembre-se que o senhor é filho de um sapateiro". E todo o Senado riu. Lincoln, com firmeza e equilíbrio respondeu, espirituosamente:



"Estou tremendamente grato por você ter me lembrado do meu pai, que está morto. Sempre me lembrarei de seus bons conselhos. Nunca serei tão bom presidente quanto ele foi sapateiro."



Houve no ambiente um silêncio sepulcral. E continuou:


"Até onde eu sei, meu pai costumava fazer sapatos para sua família também. Se seus sapatos estiverem com algum problema traga-os a mim que eu resolvo, meu pai me ensinou o ofício, não chego nem aos seus pés, mas posso consertá-los. Estou diposto também a consertar, caso precise, os sapatos de todos vocês que foram clientes de meu pai. Mas uma coisa é certa: eu não posso ser tão bom quanto ele, seu toque era de ouro."



Ao terminar, as lágrimas caíram dos seus olhos e todo o Senador o aplaudiu em grande reverência. Além do grande esplendor verbal que inundou o espírito do homem naquele momento, belas lições de vida nos foram transmitidas e cabe a cada um examinar por si mesmo."

"A coletividade e a raça humana...' Todos humanos são manos'..."


"O ser e a massa são um só
A massa e o ser não..."


Vladimir Maiakovski

A coletividade coleta em si a substancia da massa e torna incapaz a manifestação individual única garantia de existência “real” de um ser. A coletividade não pensa, pensa quem comanda o coletivo, mas se existe um ciclo vicioso entre uma coletividade despessoalizada e um “líder” dependente do poder. Ai então existe o “comando do nada por ninguém”. Assim a massa não conhece liderança e nem a liderança conhece seu comando.
Existe uma diferença fundamental entre coletividade e comunidade, a comunidade comunga e se comunica através de símbolos e ancestralidades e a coletividade se ajunta para o momento, a comunidade presencia o acontecimento enquanto a coletividade acontece sem saber.
A inconsubstancialidade das instituições em favor das coletividades se apresenta mais palpável nos contatos que entretemos hoje. A massa de manobra se apresenta no momento como coletividades contaminadas pela febre histérica da busca da cura da inexistência em que se encontram.
Os grupamentos são definidos pelo poder vigente e classificados, catalogados, discriminados de forma que não possam se ausentar de tal “titulo” ou “rotulo” seja por faixa etária, condição social, raça, patologia, escolha sexual, etc etc etc. A política de atenção nas várias necessidades humanas se baseiam nesses “cortes coletivos” para se fundamentar e acionar seus sistemas de “compensações”.
A própria Lei, ou sistema legal também recorre as “categorias” criadas e aceitas para se fundamentar nas decisões judiciais. O individuo se perdeu entre as categorias criadas para “sua proteção”. Programas surgem cada vez mais direcionados as partes que constitui o todo, mas segregam o universo que constitui o individuo à outra assistência existente ou a ser criada. Juntamente com as categorias se criam nichos de interdependência que se perpetuam com o passar dos anos, condicionamentos se estabelecem que prendem o sujeito a seus direitos.
Reféns assim daquilo que poderia lhes trazer maior conforto em momentos de necessidade. A comunidade desaparece onde o comum deixa de existir para dar lugar a especialidades. Assim criou-se um mito do especial em detrimento do comum, quando na verdade ser especial é ter direito a ser comum. Essas teias invisíveis nos cercam e nos segregam cada vez mais de partilharmos o mesmo espaço. Grupos de risco, idade propensa, cota racial, condição especial, etc.
Somos todos da raça humana!
Lincoln Campos Vieira (psicólogo em Minas Gerais)

sábado, 18 de abril de 2009

O Choro de Pardal ecoa pela Amazônia

por Juliana Maués - do Banco de Informações da Rede Cultura do Pará

O pardal é o pássaro silvestre mais bem distribuído pelas diferentes áreas do planeta. Pode-se dizer que ele é tão comum que em quase todos os países do mundo é possível encontrá-lo. Mas Belém foi agraciada com uma variante única da espécie.


Luiz Pardal (Luiz Pereira de Moraes Filho), é um dos produtores e compositores mais promissores e aclamados da música paraense. O multiinstrumentista professor da Escola de Música da UFPA nos concedeu a entrevista abaixo em uma tarde chuvosa de janeiro – o que em Belém, nós sabemos, não especifica muita coisa. Dando continuidade à série de entrevistas sobre o Choro no Pará, conversamos sobre este gênero musical e a relação entre o popular e o erudito na formação do Chorão, dentre outras coisas. Boa leitura!

P - Como começou o seu interesse pelo Choro?

R - Eu sempre ouço, ouvi Choro desde criança. Morei em Altamira, morei em Castanhal e, nesses lugares, naquela época, se ouvia Choro na rádio; “Brasileirinho”, aquelas coisas do Waldir Azevedo, aquele Choro mais popular. E o meu interesse por Choro mesmo foi quando eu comecei a estudar violino, com nove ou dez anos de idade, e me disseram que o bandolim tinha a mesma afinação do violino, mi – lá – ré – sol, e que, se você toca violino, você toca bandolim. Aí, eu fiquei super interessado. Pedi pra minha mãe um bandolim de presente. Ela me arranjou um bandolim num sebo, assim, antigo. Quando eu vi, eu já sabia tocar mesmo, porque é igualzinho, mesma afinação, só que em vez de ser com o arco é com a palheta. E, como eu já gostava de Choro, eu comecei a comprar uma série de discos do Jacob do Bandolim, Lupércio Miranda, Joel Nascimento, daqueles grandes músicos, na época, e comecei a aprender aqueles Choros, menino ainda, com 12 anos, e pronto. Daí, não parei mais. Junto com o violino, eu sempre toquei bandolim.


P - A sua família é ligada à música?


R - Olha, não diretamente. Eu tenho um tio-avô que tocava bandolim, inclusive. Depois, a minha mãe arranjou esse bandolim com ele, que era dele e ficou pra mim. É um bandolim muito antigo que eu já passei pra minha filha, que toca bandolim também. Então, assim, não é exatamente uma tradição porque eu não conheci esse meu tio avô, é mais uma coisa natural em mim. Eu toco desde dois anos de idade. É uma coisa que já veio. Veio no sangue, vamos dizer assim.

P - Você toca vários instrumentos, mas tem mais apego a algum deles?


R - Ah, eu não tenho apego a nenhum, mas eu gosto de todos. Cada instrumento tem uma finalidade. Por exemplo, o Choro e o bandolim têm tudo a ver. A música erudita e o jazz têm muito a ver com o violino, eu gosto muito. A harmônica tem a ver com música popular e jazz também. O piano, eu gosto muito de tocar para compor. Para compor minhas coisas, eu gosto de compor no piano. Cada um tem uma finalidade, entendeste? Cada um tem o seu momento.


P - Nós podemos falar que o Choro tradicional sofreu modificações em relação ao Choro que é tocado hoje?


R - É. Tudo na vida tem que ter um seguimento, tem que ir pra frente. O que aconteceu com o Choro é que ele teve influência também do jazz. Então, se acumulou dentro do Choro tradicional uma linguagem mais moderna, harmônica. Tem a harmonia com o jazz, ritmos também brasileiros, fusão com outros ritmos, com baião... Então, teve modificação, sim, com certeza.


P - E os instrumentos? Foram agregados novos aos que eram utilizados originariamente?


R - Sim. Hoje em dia, se faz Choro com tudo o que é instrumento: guitarra, piano – piano sempre fez -, sintetizadores, usando contrabaixo elétrico, tem Choro sinfônico... Então, de tudo o que é jeito tem essa influência e agregação desses instrumentos novos.


P - Mas essas novidades são bem recebidas por quem faz o Choro tradicional, pelos Chorões mais antigos?


R - Sim, por alguns. Não, por outros. Alguns mais tradicionalistas não aceitam de jeito nenhum. Eu, por exemplo, gosto das duas coisas: gosto do Choro antigo, tradicional, e também, gosto do Choro moderno. Gosto de fazer as duas coisas. Acho que é um pé no passado e um pé no presente, no futuro, no que vem a ser o Choro no futuro. Se a gente ficar só naquele Choro tradicional, tradicional, tradicional, como é que fica a vida? A gente vai ficar coisa de museu a vida inteira? Agora, você precisa conhecer o Choro do passado para poder fazer o Choro do presente e do futuro. Tem que conhecer.


P - Há nomes de grupos que façam esse novo Choro que você possa citar?


R - Ah, tem vários. No Rio de Janeiro, se você sacudir uma árvore, caem vinte: “Nó em Pingo D’água”, “Água de Moringa”, que eu me lembre, assim, rápido. O “Galo Preto” já fazia uma coisa moderna. Esses são grupos do Rio de Janeiro. Aqui em Belém, tem vários grupos também. Tem uma garotada aí fazendo Choros com linguagem mais moderna. O grupo que a minha filha toca, que é o “Charme do Choro”, e o “Sapecando no Choro” também fazem; eu gosto de compor coisas modernas; tem o Jacinto Kahwage, que é um compositor, pianista de jazz, que também faz Choro moderno. Tem muita gente fazendo. Inclusive, tem gente levando o Choro brasileiro para os Estados Unidos, ensinando lá na Berklee. Ou seja, tem gente ensinando Choro na Berklee, que é uma escola de música famosíssima no mundo todo.


P - E se faz Choro no exterior também?


R - Pois é, se faz sim: nos Estados Unidos, na Europa. O Choro na Europa está uma febre. O que tem de brasileiro tocando Choro pra lá... E as pessoas ficam encantadas, porque o Choro é como se fosse o jazz – mas é uma coisa maravilhosa, o Choro. O que tem de gringo aí tocando, botando o Choro no seu repertório, não só o jazz, na Europa... No Japão, tem um movimento muito grande de Choro. Tem músicos do Japão que vêm aqui só pra estudar Choro. Passam dois, três anos morando aqui, depois voltam e fazem grupo de Choro lá. Israel tem, Estados Unidos tem, Europa inteira, como eu te falei, tem gente tocando Choro.


P - A origem do Choro é popular ou erudita?

R - Essa é uma pergunta difícil de te responder, mas eu penso assim: tem um pé naquelas coisas que vieram da Europa, com a mistura das coisas de Portugal, dos ritmos que nasceram no Brasil, dos que vieram da África. Tudo isso aí é o Choro. O Choro nasceu brasileiro. O Choro é uma música que nasceu no Brasil, um gênero brasileiro mesmo. Mas tem influência da polca, das mazurcas, coisas que vem lá da Alemanha. Tem influência da música portuguesa. Então, isso aí tudo teve influência da música erudita também. Händel já fazia aquelas danças, minuetos. Então, uma coisa vai levando à outra, vai misturando e chega aqui já de outra maneira. Então, pra dizer se a origem é popular ou erudita é uma coisa difícil. Tudo, eu acho que, no fundo, tem uma origem popular, de alguma maneira, que vem do povo e os mais eruditos pegam e transformam em uma coisa mais elaborada. Mas tudo vem assim, do povo.


P - Enquanto professor da Escola de Música da UFPA, você vê que há uma boa recepção dos ritmos populares, como o Choro, pela Academia?


R - Tem. O Choro é muito querido. O Choro tem a influência erudita. Influenciou grandes músicos como Ernesto Nazareth, que fez alguns Choros; Chiquinha Gonzaga, que era uma coisa meio erudita, meio popular; e o Villa-Lobos?, que é o mais importante de todos. O Villa-Lobos? é o mais importante, que era compositor e era um Chorão, que pegou toda essa linguagem dele (do Choro) e transformou em uma coisa mais elaborada, sinfônica. Mas não deixa de ser um Chorão. Por exemplo, aquela Bachiana dele, “Cantilena”. Conheces isso? É linda. Isso é um Choro. Tudo com um pé no Choro.


P - É válido afirmar que o Choro feito aqui no Pará é diferente dos demais locais do Brasil?


R - Olha, sobre isso foi feita uma pesquisa por uma professora chamada Maria José Pinto da Costa de Moraes, que, por acaso, é minha mulher...


P - Que, por acaso, nós já entrevistamos... R - (risos) Pois é. Isso é uma pergunta pra ser feita a ela de novo, porque é uma polêmica...


P - Mas, independente de comprovada essa diferença ou não, nós podemos dizer que, hoje, o Pará é uma referência no Choro?


R - Não tenha dúvida. Sempre foi. Nós sempre tivemos grandes Chorões aqui. É porque nós moramos muito longe, vamos dizer assim, do centro, o eixo Rio-São? Paulo. Mas, aqui, nós temos nosso movimento próprio. Aqui, existe a Casa do Gilson que tem um movimento muito grande de Chorões e é um lugar muito legal pra tocar Choro. Todo mundo que vem de fora se encanta com esse lugar, porque é lindo, é muito agradável de tocar Choro lá. Antigamente, tinha a Casa do Ademir, que era a casa do Choro também. Começou mesmo por ali o movimento. Mas sempre teve Chorões aqui. Então, hoje em dia, tem uma garotada tocando. Inclusive, as minhas filhas tocam também Choro. O Choro não morre e continua sempre, um passando pro outro e passando pro outro e, quem vai fazendo, vai se encantando.


P - Na sua opinião, quais são os maiores nomes do Choro, hoje, no Pará?


R - No Pará? Ah, tem muita gente importante. Tem o Adamor do Bandolim, meu compadre Adamor. Deixa eu ver, que é difícil a gente não esquecer, é tanta gente... Você tem aquele disco do Gilson? É bom você arranjar esse disco. Naquela listagem ali estão os principais Chorões do Pará: Nêgo Nelson, tem o Gilson... Agora, compositores, tem tanta gente... Entre músicos e compositores, é até difícil citar assim. Todo mundo é importante. Todo mundo faz o movimento. Todos nós fazemos o movimento do Choro aqui em Belém.


P - Gravaste algum CD próprio de Choro?


R - Gravei, de Chorinho. Por coincidência, CD de Choros da série Uirapuru. É um CD com 18 faixas, só com composições minhas. Tem Choro, tem Valsa, tem uma Polca, tem um Choro Canção. Tens que ouvir. Está lá tudinho.


P - Tens idéia de quantas composições já fizeste?


R - Não... No Choro, a gente vive fazendo Choro. De vez em quando, a gente faz um. Nesse CD tem 18, mas eu tenho muitos mais. Já dava pra fazer outro CD. Choro é assim: você chega em casa meio triste, aí você faz um Choro; você chega em casa com dor de dente, aí faz um Choro porque está com dor de dente e o nome do Choro é “dor de dente”. Então, é assim: tudo é motivo pra fazer um Choro. Por isso que os nomes são engraçados. O nome do primeiro Choro desse meu disco é “Chorando na cebola”. A minha mulher pediu pra eu cortar umas cebolas e eu comecei a lagrimar. Aí, saí de lá e fui logo fazer um Choro: “Chorando na cebola”. Então, é assim que é Choro. A minha cunhada morreu, mas ela era uma pessoa muito alegre, o apelido dela era Ticorica, aí eu fiz “Ticorica no Céu”. No dia que ela morreu, eu fiz esse Choro. No dia em que ela morreu, eu fiz um Choro alegre! Não fiz um Choro triste; fiz ela chegando no céu, não morrendo. Então, é assim que a gente vê o Choro.


P - Tens Choros cantados?


R - Tenho alguns.


P - Algumas pessoas reagem contra o Choro cantado. Como você vê essa questão?


R - Acho uma coisa errada. Acho que tem Choro-canção lindo. Mas, pois é, tem muito preconceito. Existia uma mulher, a Ademilde Fonseca, que fazia aqueles choros rápidos, cantava “Brasileirinho”. Já faz tempo que existe Choro cantado. Ela sofreu algumas retaliações por conta disso. Mas ela conseguiu respeito disso aí. Hoje em dia, o Choro já é mais um Choro-canção. Por exemplo, Tom Jobim: “Chega mais perto meu corpo bonito, chega mais perto meu raio de sol”. Isso é um Choro. Quer ver uma música que é Choro e ninguém sabe que é? “De noite, eu rondo a cidade a te procurar...” Isso é um Choro. Não parece, mas é. A estrutura dela é toda de um Choro. Tem muito Choro assim, que tu ouves e nem sabes que é. Eu mesmo já fiz vários Choros cantados. Geralmente quem canta meus Choros é a Andréa Pinheiro.


P - No momento, você está desenvolvendo algum trabalho relacionado ao Choro?


R - Na área do Choro, não. De vez em quando, eu faço um Choro para não perder a prática. Estou sempre compondo um Choro, mas agora eu estou fazendo doutorado, então, estou me dedicando mais a essa parte mais acadêmica, de estudar orquestração, a música erudita mesmo. Estou numa fase assim agora.


P - Tem mais alguma coisa que você gostaria de acrescentar sobre essa questão do Choro no Pará?


R - Só dizer que o Choro é uma coisa muito linda. Eu vejo o Choro como uma música muito bonita. O Choro, pra mim, é como se fosse uma rosa no meio de um jardim; um jardim de música, mas tem uma rosa, que é o Choro. No Choro, tem um sentimento que é difícil tu achares em outra música: a singeleza. Já ouviu falar nesse sentimento? Singelo. Tem Choros que são singelos. Esse sentimento, singeleza, é difícil tu veres em outro tipo de música. Tem numa valsa, numa canção, às vezes tem uma singeleza, mas um jazz, por exemplo, já não é uma coisa muito singela. Na música erudita, existe, mas é raro. No Choro, quase todo Choro é singelo. Você pode oferecer pra tua mãe, pro teu avô. Então, tem essa história.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

"The Guardian" elege praia de rio no Pará como a melhor do Brasil

Alter-do-Chão, nas margens do rio Tapajós, ficou na frente de Fernandode Noronha e Jericoacoara na lista do Guardian (REDAÇÃO ÉPOCA)O jornal inglês The Guardian publicou nesta quarta-feira (15) uma lista com as 10 melhores praias no Brasil, escolhidas por 10 especialistas. Em primeiro lugar aparece a praia Alter do Chão, próximo de Santarém, no Pará, que desbancou paraísos incontestes como Fernando de Noronha e Jericoacoara e praias tradicionais do Rio deJaneiro e da Bahia.
A praia vencedora, que fica à beira do rio Tapajós, foi escolhida por Tom Phillips, correspondente do Guardian no Brasil. A reportagem do Guardian reconhece a dificuldade de escolher a melhor praia do Brasil - que tem 8 mil quilômetros de costa e milhares de praias voltadas ao Atlântico - mas não se furta de atribuir a Alter doChão o título de melhor praia, classificando- a como a "resposta da selva ao Caribe".
Próximo de Santarém, o lugar só se transforma empraia de agosto a janeiro, época de vazante do Tapajós. Quando ovolume de água do rio baixa, ficam expostas centenas de faixas de areia.O jornal sabe que o assunto é delicado para os brasileiros, que podem "passar horas falando sobre suas praias favoritas".

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Exposição sobre 'ouro das Américas' em Paris, tem fotos de Sebastião Salgado em Serra Pelada.

Símbolo de poder, paradigma de riqueza, o ouro sempre despertou a ambição dos homens, e sua exploração marcou o destino do Novo Continente: o Museu Nacional de História Natural de Paris inaugura uma exposição para percorrer esta história, intitulada "O Ouro das Américas", que inclui as famosas fotografias de garimpeiros tiradas em Serra Pelada por Sebastião Salgado, um dos fotógrafos mais cultuados do mundo.

A exposição, que ficará aberta ao público de 8 de abril a 11 de janeiro do ano que vem, tem seis salas temáticas, que vão do mineral na natureza até sua utilização atual na alta tecnologia.Entre elas, o visitante explora a relação dos homens com o ouro, seu simbolismo nas civilizações pré-colombianas, seu papel nas conquistas e as sucessivas "febres do ouro" da história, com suas consequências sociais e ecológicas, ilustradas por diversos documentos, entre eles a impressionante série de imagens feita pelo fotógrafo Sebastião Salgado na região de Serra Pelada, no Pará, que nos anos 80 se tornou o maior garimpo a céu aberto do mundo.

"Para que o ouro se forme na natureza, são necessários milhões de anos sem nenhuma perturbação geológica, nem terremotos, nem atividade vulcânica, o que explica sua escassez", explica Francois Farges, curador da coleção de mineralogia do museu e um dos comissários científicos da exposição.

Suas qualidades excepcionais de densidade, maleabilidade e inalterabilidade justificam a fascinação que o chamado "vil metal" sempre provocou no homem, desde as mais antigas civilizações até os dias de hoje.

Na primeira sala da mostra, "O Ouro na Natureza e a Natureza do Ouro", o visitante conhece a formação e as diferentes técnicas de extração, exemplificadas por várias amostras de ouro "naturais", ou seja, que não passaram por qualquer processo de limpeza ou lapidação, tais como foram extraídas.

Entre elas, peças com triângulos de cristais de ouro em estado natural, grandes placas em forma de folhas, fibras de ouro que se cruzam, formando uma delicada trama, semelhante a um bordado.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Municípios vão ter que "apertar os cintos"


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou hoje (6) que fará uma reunião ainda essa semana para tratar da queda no repasse do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) e disse aos prefeitos que será preciso "apertar o cinto".


"Todos vamos ter que apertar o cinto, mas nenhum de nós vai morrer na seca como os municípios já morreram durante tanto tempo", disse ao discursar na inauguração da usina de biodiesel da Petrobras, em Montes Claros (MG). Lula explicou que a queda no repasse do FPM é um reflexo da queda na arrecadação geral provocada pela crise financeira internacional e fez uma comparação. "Se uma mãe coloca feijão no fogo para cinco pessoas e chegam dez para comer, todo mundo vai ter que comer metade do que estava previsto."
Ele lembrou que o vice-presidente, José Alencar, e ministros já começaram estudos para amenizar as dificuldades das prefeituras. "Nós temos consciência de que, se a prefeitura estiver mal, a primeira coisa que vai ocorrer é o corte nos salários, a segunda é piorar a qualidade da educação, a saúde, a terceira é que o prefeito não vai ter dinheiro pra fazer obra."