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quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

O segredo de Lula só o seu barbeiro sabe qual é

"Lula gosta de metáforas. Eu também. Por isso gostei tanto de Entreatos, o filme de João Moreira Salles que acompanha os últimos dias de um candidato antes de virar presidente. É uma espécie de metáfora sobre o poder do poder. Um filme imperdível.


Não só por mostrar os bastidores da campanha presidencial, mas por mostrar a vida privada de um homem público. E - protagonizado por Lula e Duda Mendonça - está cheio de metáforas, claro. Ali, Lula se expõe corajosamente, ao mesmo tempo em que dá pistas sobre seu estilo de governo. Conta casos, relembra histórias, usa e abusa das metáforas para explicar o panorama político do país. Mas nenhuma de suas metáforas é tão contundente quanto a criada, involuntariamente, por Fernando, o barbeiro oficial do candidato.

Numa cena logo no início do filme, Lula chega ao salão em São Bernardo do Campo e, após uma sessão de tesouradas e navalhadas, sai exatamente com a mesma cara com que entrou. Não mudou nada. Fernando, o barbeiro do Lula, antecipou para o público o que seria o governo do PT. (Isso justifica a brincadeira da foto montagem acima)
Por guardar nossos segredos mais íntimos, há muito tempo aprendi que a maior qualidade de um barbeiro, além do silêncio e da atualização na coleção da Playboy, é sua localização: longe das ruas, de preferência no fundo de galerias. Acho inconcebível, por exemplo, a existência de salões de cabeleireiro em frente a ponto de ônibus. Ou diante das escadas rolantes dos shoppings. Caracoles! Deveria haver uma lei que regulamentasse a questão. Para mim, ser flagrado na cadeira do barbeiro é como ser surpreendido com o zíper da calça aberto. Um crime de superexposição.


Em Entreatos Lula aparece, de certa forma, com o zíper de sua calça aberto. E tira partido disso.
Lula fala de boca cheia. Lula fala palavrões a três por quatro. Lula erra na concordância. Lula fala mal do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Lula fala mal do seu costureiro. Lula elogia o Sarney. Lula toma uma cervejinha. Lula admite que gosta de uma cachacinha. Lula experimenta gravatas com a destreza de um vendedor da Ducal.


''É impressionante como a gente passa uma vida inteira e não se acostuma ao macacão de operário e em duas semanas de terno e gravata não quer saber de outra coisa. Gosto de me vestir bem'', admite ele lá pelas tantas.


E, é incrível, todos esses deslizes, toda essa incontinência verbal, só conta pontos a favor do presidente da República. Em Entreatos, Lula e João Salles travaram o pacto da sinceridade. E é disso que é feito o filme. É impossível pensar no filme com o Serra, por exemplo, como personagem principal. Lula, na intimidade, mostra a alma comum e defeituosa de qualquer cidadão. Uma alma difícil de modificar. Está na cara. Fernando, o barbeiro de São Bernardo do Campo, já sabe disso há muito tempo." (Renato Mendes - JBonline)

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